São Paulo – O delator do PCC Vinícius Gritzbach, executado a tiros de fuzil logo após desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, região metropolitana, no último dia 8 de novembro, tinha um arsenal de armas legalizadas em casa — segundo pessoas próximas a ele, ouvidas em sigilo pela reportagem.
Gritzbach possuía o registro de Colecionador, Atirador Desportivo de Caçador (CAC), documento emitido pelo Exército Brasileiro. O Comando Militar do Sudeste confirmou ao Metrópoles que ele tinha o Certificado de Registro (CR) — permitindo a posse de armas — o qual foi suspenso e, depois, cancelado, em janeiro de 2023. Os motivos para a anulação do documento não foram especificados.
Antes disso, porém, o CR possibilitava que Gritzbach pudesse manter armamentos em sua casa, entre eles, um fuzil calibre 762, arma usada em guerras. Um armamento deste tipo foi utilizado por um dos dois assassinos do delator, ainda não identificados — os atiradores dispararam 29 vezes e 10 tiros atingiram a vítima.
Quando ainda contava com o certificado de CAC, Gritzbach era investigado pelo assassinato de dois integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que o jurou de morte.
Ele foi preso preventivamente, acusado por envolvimento em um duplo homicídio, em fevereiro de 2023. Quatro meses depois, ele foi solto e passou a responder pelo crime em liberdade.
Gritzbach também era denunciado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) por envolvimento na lavagem de dinheiro da maior facção criminosa do país.
Armas apreendidas
Por causa da investigação sobre o duplo assassinato dos integrantes do PCC, policiais do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) cumpriram mandados de busca em endereços do delator, durante os quais apreenderam parte do arsenal de Gritzbach.
Em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil, oito dias antes de ser executado no aeroporto de Guarulhos, o corretor mencionou a apreensão de “armas de sua propriedade” e acusou policiais de furtarem um fuzil calibre 762.
“Essa arma estava [registrada] em seu nome, esclarecendo que tinha CAC. Diz que não viu essa arma no DHPP. Diz que a respeito [do sumiço] dessa arma foi feito um boletim de ocorrência”.
A reportagem não localizou o referido registro.
Furto de relógios de luxo
Além do desaparecimento da arma, Gritzbach ainda acusou o policial civil Rogerio de Almeida Felício, o Rogerinho, de furtar relógios de luxo, com os quais o então membro do DHPP apareceu em fotos, postadas em seu Instagram.
Como revelado pelo Metrópoles, com salário de R$ 7 mil mensais, o policial é sócio de uma clínica de estética, de uma empresa de segurança privada e de uma construtora — que ergueu cinco condomínios de 37 casas no litoral sul paulista.
Ele, o chefe de investigações Eduardo Monteiro e o delegado Fábio Baena, todos do DHPP na ocasião, foram afastados de seus cargos — após serem denunciados por corrupção no depoimento de Gritzbach à corregedoria, feito em 31 de outubro.
Os policiais teriam pedido R$ 40 milhões em troca da retirada de Gritzbach do inquérito que investigava a morte de Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, chefão do PCC, ocorrida em 2021,juntamente com o seu motorista, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue.
Jurado de morte
Gritzbach era jurado de morte pelo PCC por supostamente ter mandado matar os dois integrantes da facção. Ele estava fora da prisão desde junho do ano passado, após ter fechado acordo de delação premiada com o MPSP — homologado em segredo de justiça.
Em dezembro do ano passado, Gritzbach havia sido alvo de um suposto atentado na sacada do apartamento em que morava, no Jardim Anália Franco, zona leste da capital paulista. Na denúncia, o MPSP diz que o empresário mantinha negócios na área de bitcoins e criptomoedas.
O duplo homicídio dos integrantes do PCC ocorreu em 27 de dezembro de 2021 e teria sido cometido em parceria com o agente penitenciário David Moreira da Silva.
Já Noé Alves Schaum, denunciado por ser o executor dos membros do PCC, foi assassinado no dia 16 de janeiro do ano passado – ele teve a cabeça arrancada e exposta em praça pública, na zona leste paulistana, como represália.