A fundação da OTAN em 1949 e sua existência até os dias atuais evidencia que o lado Ocidental ainda continua organizado formalmente em sua aliança militar e ideológica. Os estreitos laços dos Estados Unidos com o Japão, Coreia do Sul, Filipinas, Austrália e Nova Zelândia ressalta também que o Ocidente possui importantes aliados no oriente de nosso planeta. Com o fim da Guerra Fria, e com a extinção do Pacto de Varsóvia, que organizava os aliados soviéticos em um grupo ideológico-militar assim como a OTAN, o outro lado da balança passou por várias reformulações e o nascimento de novas amizades ao longo das últimas décadas. Contudo, as alianças mais antigas são as que perduram e nos mostram com maior clareza a força militar dos antagonistas ao Ocidente.
Mesmo com o rompimento de relações entre União Soviética e China por grande parte da segunda metade do século XX, em um período que viria ser conhecido como a ruptura sino-soviética, o reestabelecimento de relações amistosas desde Mikhail Gorbachev com o Partido Comunista Chinês colocou no chão os primeiros ladrilhos para a base de uma forte aliança econômica e militar e que busca continuar a rivalidade com o Ocidente, agora de maneira mais robusta.
Desde que se tornou a principal face da Rússia para o mundo há 25 anos, Vladmir Putin, se aproximou cada vez mais de Pequim, a modo de enterrar as diferenças interpretativas da ideologia do passado, e construir as pontes necessárias para manter a Rússia ainda como uma nação relevante no futuro. Putin e seus ministros sabem que com uma população em alarmante declínio e uma economia de apenas 2 trilhões de dólares anuais, não teriam capacidade de manter a competição com os Estados Unidos, crescendo alguns milhões de pessoas por ano e com uma economia 15 vezes maior. O caminho lógico foi se aproximar da maior nação do mundo em população, e que também teve um crescimento econômico impressionante pelas últimas três décadas, a China.
Se as variáveis econômicas e demográficas foram alteradas, um parâmetro que se mantém constante e a favor dos russos, é o seu arsenal nuclear e suas forças armadas. Herdando a grande maioria dos tanques, blindados, mísseis, foguetes e ogivas nucleares da União Soviética, a Rússia conseguiu se manter relevante pelo seu poder de dissuasão, algumas vezes apenas no imaginário dos inimigos, algumas outras com ações militares concretas colocando cidades abaixo. A última dessas invasões, a invasão à Ucrânia em 2022, culminou com a maior série de sanções contra um único país e obrigou os russos a buscarem alento nos braços de Xi Jinping, ampliando a aliança estratégica e econômica por questões ideológicas, para um acordo de defesa e a realização de exercícios militares conjuntos, como os de hoje.
Não bastando a amizade fraterna entre Rússia e China, mais uma antiga aliada de ambas, a Coreia do Norte, também assinou neste ano um acordo de mútua defesa com os russos. Hoje o Ministro da Defesa da Federação Russa, Andrey Belousov, visitou Pyongyang para encontrar seu homólogo General No Kwang-chol em mais uma visita para discutir pautas estratégicas e militares. As honrarias de estado, os desfiles com milhares de soldados, os apertos de mão e abraços descontraídos, carregam uma estética antiga para tempos modernos, deixandocada vez mais explícito que o grupo de oposição ao Ocidente está também se coordenando militarmente.