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Humanos e neandertais cruzaram há 47 mil anos

Dois novos estudos lançam luz sobre um capítulo crucial e enigmático da evolução humana, mostrando que humanos modernos e neandertais tiveram descendentes em período que atingiu seu auge há 47 mil anos. O legado desse cruzamento ainda está presente no DNA de muitas pessoas atualmente.

Como relembra o The Washington Post, pesquisas anteriores já haviam comprovado que neandertais e humanos modernos geraram descendentes, com os primeiros se tornando parte de nossa ancestralidade. Indivíduos cujos ancestrais migraram da África para a Eurásia carregam entre 1% e 3% de DNA neandertal. No entanto, os detalhes e o período exato desses cruzamentos permaneciam um mistério.

Crânio de mulher que viveu há 45 mil anos
Cientistas estão juntando as peças da história de como os neandertais e os humanos se cruzaram há 47 mil anos a partir de DNA antigo recuperado de restos humanos, incluindo o crânio de uma mulher que viveu há 45 mil anos na República Tcheca (Imagem: Marek Jantac/Museu Nacional, Praga)

Os novos estudos, publicados nas revistas Science e Nature, trazem informações mais precisas. Um deles analisou o DNA de 275 humanos modernos e 59 pré-históricos, concluindo que neandertais e humanos cruzaram por cerca de sete mil anos, a partir de 50,5 mil anos atrás.

Outro estudo sequenciou os genomas humanos mais antigos já registrados, datando de 45 mil anos, e identificou uma família que incluía uma mãe e seu bebê. Eles descendiam de neandertais em linhagem que remonta a 80 gerações antes.

Humanos e neandertais: um encontro contínuo

  • Os Homo sapiens, originários da África há cerca de 300 mil anos, cruzaram com neandertais após migrarem para a Eurásia entre 50 mil e 60 mil anos atrás;
  • Os neandertais, habitantes da Europa e da Ásia Ocidental, desapareceram há aproximadamente 39 mil anos;
  • Durante esse período de coexistência, encontros frequentes entre as duas espécies resultaram no compartilhamento genético;
  • “Esses eventos de cruzamento não foram raros, mas uma realidade contínua por milhares de anos“, disse Priya Moorjani, professora de biologia molecular na Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA) e coautora do estudo publicado na Science;
  • A pesquisa sugere que, entre os ancestrais de pessoas modernas que deixaram a África, cerca de um em cada 20 teria sido um neandertal;
  • O local desses encontros ainda é incerto, mas muitos cientistas especulam que ocorreram no Oriente Médio.

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Restos mortais de uma mulher que viveu há 45 mil anos
Restos mortais de mulher que viveu há 45 mil anos e tinha ascendência neandertal distante foram recuperados nas cavernas de Koneprusy (República Tcheca) (Imagem: Martin Frouz)

Famílias antigas e conexões genéticas

Na Alemanha, fragmentos de ossos e ferramentas encontrados em escavações de mais de 41 mil anos foram analisados geneticamente, revelando humanos que viveram há 45 mil anos. Entre eles, estavam uma mãe, seu bebê e outros parentes. O estudo descobriu que esses indivíduos tinham ancestrais neandertais em sua linhagem.

“Esses dados nos permitem viajar no tempo e compreender o que aconteceu há 50 mil anos em nossa história”, afirmou Moorjani.

O geneticista evolucionista Svante Pääbo, pioneiro na pesquisa de DNA antigo, destacou que algumas populações humanas pré-históricas que cruzaram com neandertais não contribuíram geneticamente para os humanos modernos. “É fascinante como muitas dessas linhagens desapareceram completamente”, disse.

Legado genético dos neandertais

Hoje, o DNA neandertal nos genomas humanos está associado a características, como pigmentação da pele e resposta imunológica. Embora caricaturados como primitivos no passado, os neandertais deixaram marca significativa em nossa história evolutiva.

Os novos estudos não apenas detalham os períodos e padrões de cruzamento, mas, também, reforçam a complexidade das interações entre humanos e neandertais, mostrando que essas relações foram componente central de nossa jornada como espécie.

Parte frontal do crânio feminino
Pesquisadores descobriram que um crânio de 45 mil anos era parente próximo de dois indivíduos do mesmo período encontrados em Ranis (Alemanha) (Imagem: Marek Jantac/Museu Nacional, Praga)

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