
Nos últimos anos, a face dos cibercrimes contra crianças e adolescentes tornou-se alarmante, exigindo a atenção urgente de autoridades e especialistas. O cenário é complexo e inquietante: o aliciamento de menores pela internet, que já não é novidade, ganhou novas dimensões com o crescimento acentuado das redes sociais e a cultura dos desafios virais. A pandemia de covid-19 somente exacerbou a situação, ao manter os jovens conectados por longas horas, muitas vezes sem supervisão, aumentando a exposição a riscos digitais.
Conforme profissionais que atuam nessa frente, a resposta convencional de repressão se mostra insuficiente diante da velocidade de propagação dos crimes. A verdadeira proteção começa dentro de casa, nas escolas e por meio de uma rede de apoio que envolva os mais próximos. Nos ambientes digitais, a vulnerabilidade emocional de alguns jovens e a ausência de supervisão tornam um terreno fértil para a manipulação de criminosos. Relatos de aliciamento, extorsão e incitação à automutilação estão se tornando mais frequentes e alarmantes.
Diante desse panorama, o papel dos pais se torna crucial. Especialistas, como Alesandre Barreto, coordenador do Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça, alertam que o controle parental deve ser uma forma de amor e cuidado, e não uma vigilância opressora. “A supervisão deve se basear no diálogo e em observar os sinais que os jovens enviam”, enfatiza Barreto. Questões como o tempo excessivo de tela e comportamentos preocupantes, como a automutilação ou o abuso de animais, são indícios que não devem ser ignorados.
Iniciativas como o “Projeto Sinais”, desenvolvido pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, visam capacitar pais, educadores e profissionais de saúde a identificar esses sinais de alerta. O projeto enfatiza a importância da colaboração entre diferentes esferas da sociedade para criar um ambiente seguro para os adolescentes. “Estamos lidando com um problema digital com uma abordagem analógica, promovendo o cuidado humano”, explica Costa, um dos integrantes do núcleo. O sucesso dessa estratégia é evidente, com125 ocorrências mapeadas até junho deste ano e a realização de 33 capacitações em 176 municípios.
A prevenção é uma responsabilidade coletiva que não pode ser negligenciada. Segundo Lisandrea Colabuono, da Polícia Civil de São Paulo, a violência vivida nas primeiras fases da vida pode deixar sequelas profundas, refletindo na vida adulta. A educação é essencial para formar jovens mais conscientes dos limites legais e emocionais de sua exposição online. O advogado Paulo Klein reforça essa perspectiva, afirmando que a repressão não é o único caminho – a aplicação de conhecimento sobre o uso seguro da internet é fundamental.
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal tomou uma decisão histórica ao responsabilizar redes sociais por conteúdos postados por usuários, estabelecendo um “dever de cuidado” que pode mudar a forma como a internet é usada no Brasil. Essa medida pode incentivar plataformas a remover proativamente conteúdos prejudiciais, promovendo uma rede mais segura para os jovens. O impacto desta decisão ainda é incalculável, mas representa um avanço fundamental nos esforços para proteger nossas crianças e adolescentes no ambiente digital.
Estamos todos convidados a refletir sobre como podemos contribuir para a proteção de nossos jovens. Compartilhe suas sugestões e experiências nos comentários. Juntos, podemos criar um ambiente mais seguro e acolhedor para as novas gerações.