19 julho, 2025
sábado, 19 julho, 2025

Ravengar: A ascensão e queda do barão do tráfico que desafiou o Estado

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Ravengar: A ascensão e queda do barão do tráfico

Em meio ao cenário turbulento de Salvador, a figura de Raimundo Alves de Souza, o Ravengar, emergiu como um sussurro poderoso. Não era apenas um homem; era um fenômeno social, moldado pela falta de Estado, pelo poder corrosivo das drogas e pela obediência comprada através de favores. Seu império se estendia dos morros à elite soteropolitana, uma realidade onde a política não se atrevia a pisar. A história de Ravengar é uma narrativa marcada por violência, astúcia e profundas contradições.

Nascido em 1953, no coração de Salvador, Ravengar cresceu em um ambiente onde a infância acabava antes do tempo. No Pelourinho, dividia espaços com pequenos criminosos, começando sua trajetória como um simples coletor de apostas no jogo do bicho. Logo, sua presença se tornaria uma constante para aqueles que navegavam à margem da lei e da sobrevivência.

Com a crise financeira, mudou-se para o Alto de São Gonçalo e tornou-se taxista. Foi ao volante que Ravengar encontrou sua nova oportunidade: o tráfico de drogas. Inicialmente, como entregador, ele passou a transportar entorpecentes para artistas, empresários e políticos, ganhando a confiança de um cliente diverso, sem levantar suspeitas. Assim, o homem que era conhecido como “Raimundão Brabo” aguardava o surgimento de um apelido que o imortalizaria.

A prisão de Zequinha do Pó, um antigo chefe do tráfico, abriu espaço para Ravengar ascender ao poder. Ele não hesitou em instalar-se no Morro da Águia, um local estratégico, isolado e esquecido pelo Estado, onde fundou seu império, conhecido como “Império Ravengar”. Seus seguidores, conhecidos como “Soldados de Ravengar”, formaram uma estrutura militar, padronizando comandos e patrulhamento constante.

O que o diferenciava era seu domínio em entrelaçar medo e favores. Tal como Pablo Escobar, ele entendia que o amor comprado poderia ser tão eficaz quanto a obediência imposta. Em sua comunidade, distribuía benevolências: pagava botijões de gás, organizava festas, mantinha uma creche, enquanto armados, seus homens asseguravam a ordem no morro. À polícia, ele oferecia subornos; à comunidade, ele proporcionava proteção e pequenos milagres diários.

Nos anos 1990, Ravengar consolidou seu império, transformando-se em um empresário noturno. Criou o bar Reluz e a casa de espetáculos Megashow, investindo em grupos musicais. O véu que separava o crime do entretenimento começou a se desfazer sob luzes coloridas, com artistas nos palcos e cocaína nos bastidores. Para o público, ele era apenas uma sombra; para a polícia, um enigma intocável.

A primeira grande operação contra Ravengar, em 1992, fracassou. Enquanto os policiais invadiam seu bar e detinham seus aliados, ele desapareceu como um fantasma. Anos depois, a situação mudaria com a chegada do delegado Edmilson Nunes, que se tornou obstinado em rastrear Ravengar. A busca culminou em uma invasão dramática em sua mansão, mas Ravengar escapuliu novamente, já prevendo os movimentos de seus inimigos.

Contudo, 22 de fevereiro de 2004, ficou marcado como o dia da queda do rei. Ravengar, empurrado contra a parede após uma tentativa de fuga, enfrentou seus últimos momentos de liberdade. Capturado, ele enfrentou a derrota. Sua esposa foi presa ao seu lado, e sua rede de poder desmoronava.

Em 2006, recebeu uma pena de quase 26 anos por diversos crimes. Dentro da prisão, buscou manter sua autoridade, criando um “Código de Ética Ravengar” para os detentos, tentando transformar sua cela em um gabinete de liderança. Em 2012, obteve liberdade condicional, mas em 2017, sua trajetória criminosa não teve fim e ele foi preso novamente junto da família.

Ravengar faleceu em 8 de junho de 2023, por complicações de diabetes, encerrando sua vida de excessos de maneira discreta. Sua lenda, no entanto, permanece: um nome circulado por medos, respeito e desconfiança.

Para muitos, foi um vilão; para outros, um protetor. Ele é o produto de uma realidade onde o crime é, muitas vezes, mais eficiente que o governo. Ravengar já não está entre nós, mas sua representação ainda vive nas sombras dos morros, nas vielas, em cada silêncio cúmplice que ainda protege os novos “Ravengares” em ascensão. O que você pensa sobre isso? Compartilhe sua opinião nos comentários.

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