Cidades ao redor do mundo que enfrentam os desafios impostos pelos aplicativos de entrega têm buscado soluções inovadoras para mitigar os riscos envolvidos no trânsito. Nova York e Adis Abeba se destacam ao implementar medidas que visam proteger motociclistas, que frequentemente se veem pressionados pelos algoritmos dessas plataformas a adotar comportamentos arriscados. Em diversas iniciativas, a exigência de um salário mínimo e a instalação de sirenes que alertam sobre excedentes de velocidade foram algumas das alternativas adotadas.
Diogo Lemos, coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global em São Paulo, revela que a pressão por rapidez e volume nas entregas gera um aumento no número de motocicletas nas ruas. Essa dinâmica resulta em comportamentos de risco, o que amplifica o número de acidentes. Como a maior cidade do Brasil, São Paulo tem a capacidade de estabelecer um diálogo com as empresas de delivery para implementar medidas semelhantes às de Nova York e Adis Abeba, como o compartilhamento de dados sobre as vítimas entre os prestadores de serviço.
Em Nova York, por exemplo, a implementação de um salário mínimo de US$ 21,44 por hora levou a um acréscimo significativo nos ganhos dos entregadores, que anteriormente recebiam apenas US$ 5,39. Desde 2021, essa regulamentação já injetou US$ 700 milhões na economia local, ajudando a solucionar parte do problema enfrentado por esses trabalhadores. Em contraste, em São Paulo, o Ifood paga uma tarifa básica de R$ 7,50 por entrega, e incentivos de bônus em períodos de alta demanda acabam por encorajar comportamentos inseguros entre os entregadores.
As estatísticas são alarmantes. A pressão para entregas rápidas leva muitos motociclistas a ignorar sinais de trânsito e limites de velocidade. O que se observa é uma transformação do trabalho em um jogo, onde o risco e a velocidade são incentivados. Lemos destaca que a única maneira eficaz de reduzir acidentes é gerenciar os limites de velocidade e regular a quantidade de motocicletas autorizadas a circular, assim como já feito em outras capitais.
A perspectiva de soluções eficazes se amplia quando se avaliam práticas adotadas em outras cidades. Em Adis Abeba, por exemplo, as autoridades estabeleceram a obrigatoriedade do compartilhamento de dados dos aplicativos e implementaram alertas sonoros para motociclistas que excedem os limites de velocidade. Essas inovações têm mostrado resultados promissores e podem servir de inspiração para a criação de um arcabouço regulatório em São Paulo.
Para o futuro, São Paulo pode se beneficiar de um plano de segurança viária robusto, alinhando-se às práticas já exitosas no exterior. A fiscalização e a aplicação rigorosa dos limites de velocidade são passos cruciais. Além disso, o diálogo com as empresas poderia resultar em um compromisso mútuo de responsabilidade na segurança viária, considerando não só os entregadores, mas também todos os que compartilham as ruas.
O fenômeno da gamificação, que já promoveu um aumento sem precedentes da frota de motos, merece um olhar crítico. Incentivar entregadores a aceitar corridas a qualquer custo, sem considerar a distância e as condições de segurança, resulta em um caos potencial nas vias urbanas. É imprescindível que as plataformas assumam um papel responsável e que as cidades adotem estratégias que priorizem a segurança viária em suas políticas de mobilidade.
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