Imagine a vida de um caminhoneiro autônomo no Brasil, passando longas horas em estradas vazias, distante da família enquanto a urgência de prazos pesa sobre seus ombros. Emerson André, conhecido como Facebook, é um desses profissionais que vive essa realidade há 16 anos. Para ele e muitos de seus colegas, a rotina diária não é apenas cansativa; é um verdadeiro teste à saúde mental e física.
“Tem muitos motoristas ficando doentes, porque o estresse do cotidiano e a pressão da família por sua ausência são intensos”, lamenta Emerson.
A solidão na estrada é um desafio constante. Daniel Francisco de Lima, chamado de Del Caminhoneiro, roda pelas estradas do Brasil há 27 anos. Ele sabe que a raiva e a tensão estão sempre à espreita, mas aprende a lidar com as emoções para seguir em frente. Contudo, essa carga emocional se reflete na saúde mental da categoria. O procurador do Trabalho Paulo Douglas de Moraes explica que a saúde mental é um problema estrutural no transporte rodoviário. O fenômeno do “apagão de motorista” evidencia que a média de idade de 46 anos entre esses trabalhadores está se agravando, resultando em uma escassez de novos motoristas atraídos pela profissão.
As dificuldades também são financeiras. Uma pesquisa do Ministério Público do Trabalho mostra que 50,49% dos motoristas são comissionados, o que significa que sua renda depende da quantidade de fretes feitos. Emerson sente na pele essa pressão, ressaltando que a maioria dos motoristas não conta com benefícios como férias ou décimo terceiro, pois dependem do trabalho diário para sobreviver.
“Setenta por cento do pessoal é comissionado. Se você não trabalhar, você não ganha”, ressalta o caminhoneiro.
A realidade é ainda mais alarmante quando se trata de carga horária. O procurador revela que 56% dos caminhoneiros trabalham entre nove e 16 horas por dia, e muitos enfrentam jornadas ainda mais longas. A legislação estipula que o motorista deve ter um descanso de 11 horas a cada 24 horas, mas a realidade é bem diferente.
A pressão por desempenho leva muitos a adotar comportamentos de risco. Um estudo recente indica que quase 27% dos motoristas utilizam drogas para permanecer acordados durante as longas jornadas. A necessidade de se manter alertas por mais de 12 horas muitas vezes resulta em escolhas perigosas, como o uso de substâncias ilegais.
A pesquisadora Michelle Engers Taube nos alerta sobre os impactos psicológicos: as chances de um caminhoneiro apresentar transtornos mentais são três vezes maiores quando a jornada de trabalho ultrapassa 12 horas. Além disso, um em cada cinco motoristas já apresenta algum nível de vulnerabilidade emocional.
Alcides Trentin Junior, psiquiatra e representante da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, ressalta a necessidade urgente de avaliação e monitoramento periódicos da saúde mental desses profissionais. Segundo ele, ansiedade e depressão aumentam o risco de acidentes nas estradas, um fato que não pode ser ignorado.
A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que exige um ambiente de trabalho psicologicamente saudável, é um passo positivo. Porém, como afirma a neurocientista Barbara Lippi, é fundamental que as empresas não se limitem a cuidar da saúde física, mas também abordem riscos psicossociais que afetam o bem-estar. A fadiga e o estresse são questões que precisam ser discutidas e tratadas com a seriedade que merecem.
Alan Medeiros, da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, destaca que é crucial construir mais pontos de parada ao longo das rodovias. Enquanto os motoristas enfrentam o estigma relacionado à vulnerabilidade emocional, é preciso que a sociedade entenda a complexidade e o peso dessa profissão.
Para finalizar, refletir sobre a vida e o bem-estar dos caminhoneiros nos força a enfrentar uma realidade desconfortável. Eles não são apenas números nas estradas; são vidas que merecem cuidado e respeito. Que medidas podem ser tomadas para melhorar a condição desses profissionais? Deixe sua opinião abaixo!