DIA DE SÃO COSME E DAMIÃO
Uma celebração que vai muito além dos saquinhos de doces

Distribuição de balas e guloseimas no Dia de São Cosme e São Damião –
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Em 27 de setembro, um sábado vibrante, a Bahia se prepara para um dos ritmos mais esperados do calendário popular: o Dia de São Cosme e São Damião. Este evento, conhecido por sua alegre distribuição de doces, carrega consigo séculos de tradição, uma mistura fascinante de fé, solidariedade e diversão. Uma das práticas mais emblemáticas é o quebra-pote, onde um pote de barro recheado de surpresas é pendurado e estourado, transformando as ruas em um verdadeiro palco de alegria coletiva.
Raízes de fé e resistência
A devoção a Cosme e Damião remonta ao século IV, quando esses gêmeos, médicos de compaixão, foram perseguidos e martirizados. Sua história chegou ao Brasil através dos colonizadores e, em meio às dores da escravidão, encontrou eco nas religiões africanas, que os associaram aos Ibejis, orixás gêmeos da infância e pureza. Essa conexão gerou uma rica tapeçaria cultural onde oferecer doces às crianças tornou-se uma forma de agradecer bênçãos e celebrar a vida.
Nos terreiros de candomblé, a festa também é dedicada aos Erês, entidades que representam a inocência e a alegria, ressaltando a centralidade das crianças na festividade. Assim, o doce que leva o nome da brincadeira — um crocante de amendoim e açúcar — é indispensável, trazendo consigo a certeza de carinho e gratidão nas cestas distribuídas no dia da celebração.

| Foto: TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL
No coração da Bahia, o quebra-pote não é apenas uma brincadeira; é uma explosão de diversão. Crianças se reunindo com bastões em mãos aguardam ansiosamente o momento em que o pote será rompido, liberando balas, brinquedos e o doce entusiasmo da festa. A rua vibra com gritos e correria, um espetáculo que se repete a cada ano.

| Foto: Reprodução / Redes sociais
Comunidades inteiras se mobilizam em mutirões para preparar mesas repletas de caruru, vatapá, pipoca e os tradicionais saquinhos de doces. Essa entrega gratuita não é apenas uma promessa cumprida, mas também um gesto de solidariedade que ressoa em muitos bairros, onde a celebração se transforma em um ato social que inclui doações de alimentos, brinquedos e roupas. Para muitos, o caruru é mais do que comida; é um símbolo de partilha, proteção e prosperidade.
As celebrações podem durar o dia todo, começando com rezas e cânticos, culminando em música, rodas de samba e, claro, o aguardado quebra-pote. Cada componente é uma ode à essência da Bahia, onde a festa transcende a trivialidade e se transforma em um poderoso ato cultural.

| Foto: Reprodução / Redes Sociais
O reconhecimento do caruru de Cosme e Damião como patrimônio imaterial da Bahia, em 2024, reforça não apenas a importância dessa festa para a identidade do estado, mas também ressalta os desafios que se apresentam. A intolerância religiosa e a crescente comercialização ameaçam a verdadeira essência da celebração, mas mesmo assim, o brilho dessa festa continua a resistir.

| Foto: Ricardo Oliveira/ Cenarium
Do Recôncavo ao sertão, do litoral às portas das casas, o Dia de São Cosme e Damião entrelaça gerações. Enquanto crianças esperam com sacolinhas coloridas, os terreiros ecoam com tambores, e nas ruas, a expectativa gira em torno do pote suspenso. Quando a noite chega e os doces são compartilhados, a certeza é uma só: essa tradição é muito mais que uma festa; é um ritual de fé, um incêndio cultural e uma afirmação de que a infância é sagrada e a partilha, um valor inestimável.
- Data: Sábado, 27 de setembro de 2025
- Onde: Ruas, praças, casas e terreiros em todo o estado
- Destaques: Distribuição de doces, caruru, brincadeira do quebra-pote e festas abertas às crianças
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