Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma declaração polêmica ao sugerir que grávidas deveriam evitar o paracetamol, relacionando seu uso ao risco de autismo em bebês. Essa afirmação gerou repercussão imediata, suscitando dúvidas e discussões sobre a segurança do medicamento, amplamente utilizado por gestantes para aliviar febres e dores.
Em coletiva de imprensa, Trump mencionou que, segundo rumores, Cuba não possui paracetamol e, curiosamente, apresenta índices mais baixos de autismo. Ele também citou a comunidade amish, que se recusa a utilizar tecnologia moderna, como exemplo de um grupo com menos casos dessa condição. Tais afirmações, no entanto, foram rapidamente refutadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS, enfatizou que, embora alguns estudos observacionais tenham sugerido uma conexão entre a exposição ao paracetamol durante a gravidez e o autismo, a evidência ainda é inconsistente, e diversos estudos não conseguiram comprovar essa ligação. Ele pediu cautela ao se fazer conclusões precipitadas.
O paracetamol é considerado um dos poucos medicamentos seguros para gestantes, enquanto outros, como aspirina e ibuprofeno, são frequentemente contraindicados. A declaração de Trump ocorre em um contexto de crescente preocupação sobre o autismo, o que levou o governo a pesquisar as possíveis causas dessa condição, que ainda é alvo de muitos debates na comunidade científica.
O debate sobre o paracetamol não é novo; entre 2010 e 2020, um manifesto assinado por quase cem especialistas chamou a atenção para os riscos potenciais do seu uso na gravidez. Estudos anteriores, inclusive um da Dinamarca, indicaram um aumento de 50% no risco de autismo quando mães consumiam o medicamento durante a gestação.
Entretanto, críticos ressaltam que a metodologia desses estudos tem suas limitações. A relação entre o uso do paracetamol e o autismo pode não ser causal. Por exemplo, problemas que levam as grávidas a buscar alívio com esse medicamento poderiam, na verdade, estar ligados ao desenvolvimento do autismo, como aponta David Mandell, professor de Psiquiatria da Universidade da Pensilvânia.
Outro estudo significativo, realizado por especialistas suecos, abarcou 2,48 milhões de crianças e não conseguiu encontrar uma relação clara entre o uso do paracetamol e o autismo. Os resultados sugerem que, embora as mulheres que usaram paracetamol durante a gravidez tenham uma leve predisposição a ter filhos com transtornos, essa relação não se mantém entre irmãos.
A questão da segurança do paracetamol durante a gravidez é clara: sua utilização não é isenta de riscos, principalmente em casos de superdosagem, que pode afetar o fígado. A Agência Europeia de Medicamentos reforçou que o paracetamol deve ser utilizado na menor dose eficaz e apenas na duração mais curta necessária.
Steffen Thirstrup, da EMA, comentou: “Não encontramos evidências de que o uso do paracetamol durante a gravidez cause autismo”. A OMS, por sua vez, destaca que é fundamental intensificar os esforços para entender as causas do transtorno do espectro autista, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
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