Conta a lenda que o jornalista Roberto Marinho, criador do império de comunicação das Organizações Globo, dizia aos seus subalternos ao referir-se à morte: “Se um dia eu lhes faltar…”
Não se sabe como eles reagiam. É de supor que logo mudassem de assunto, ou então que alguns respondessem para agradá-lo: “Doutor Roberto, o senhor nunca nos faltará”.
Mais de uma vez para satisfazer o próprio ego e injetar confiança nos seus seguidores, Bolsonaro já se disse imbrochável, incomível e imorrível. Quanto aos outros, os brasileiros comuns…
Segundo Valdemar [“Por que não te calas?”] Costa Neto, Bolsonaro teria se arrependido de uma frase que acabou lhe custando o voto de muitas mulheres. A saber: “Eu não sou coveiro”.
A frase é da época da pandemia da Covid-19 que matou mais de 700 mil pessoas. Não passou de uma “brincadeira” de Bolsonaro para safar-se de críticas da imprensa, jura Valdemar.
Estranho modo de livrar-se de críticas em meio a uma mortandade, mas isso não explica Valdemar. A frase é uma marca do desprezo atávico de Bolsonaro pela vida alheia.
Naquela mesma ocasião, Bolsonaro disse outras coisas igualmente chocantes. Por exemplo:
“Tudo agora é pandemia. Tem que acabar com esse negócio. Lamento os mortos, todos nós vamos morrer um dia. Não adianta fugir disso, fugir da realidade, tem que deixar de ser um país de maricas”.
E queixou-se de que a geração de “hoje em dia é de Toddynho, Nutella, zap”. A dele foi a geração do leite condensado, do caldo de cana e do cachorro-quente vendido à porta de estádios.
Devido à facada que levou em Juiz de Fora às vésperas das eleições de 2018, agravada por falta de cuidados com a própria saúde, Bolsonaro, agora, se diz seriamente doente e pede clemência.
O Estado é obrigado a zelar pelas condições de saúde de todos os que se encontram sob sua custódia, e esse é o caso de Bolsonaro, em prisão domiciliar por ter desrespeitado ordens da Justiça.
Mas não é só o caso dele. As penitenciárias estão repletas de doentes que exigem a mesma atenção e merecem tratamento à altura dos seus males. Não há por que fazer distinções.
Se a Bolsonaro for permitido cumprir em casa a pena de 27 anos e três meses de prisão, o mesmo direito deverá ser estendido a milhares de presos nas mesmas condições de saúde.
Nada menos do que isso. Ou então a Justiça não é cega, como diz que é.
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