O futebol é um esporte em que coragem e criatividade muitas vezes andam lado a O avanço da tecnologia transformou o mundo em uma aldeia digital — e com isso, a segurança cibernética se tornou um dos maiores desafios do século XXI. No Brasil, esse tema deve ganhar um novo capítulo nas próximas semanas, com a apresentação de um projeto de lei no Senado Federal que propõe a criação de um Fundo Nacional de Cibersegurança, financiado em parte pelo crescente mercado das apostas esportivas online. A proposta surge em um momento de explosão do setor e de aumento das ameaças digitais, e pretende garantir recursos contínuos e estruturantes para proteger dados, sistemas e infraestruturas críticas do país.
Fundo bilionário: aposta na segurança digital
A proposta, elaborada pela Frente Parlamentar de Apoio à Cibersegurança e à Defesa Cibernética (Frente Ciber), será protocolada pelo senador Espiridião Amin (PP-SC) e prevê que 2% da arrecadação das bets seja destinada ao novo fundo. Considerando os números mais recentes divulgados pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, as casas de apostas movimentaram R$ 17,4 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025. Em projeção anual, isso significa que o novo fundo poderia receber cerca de R$ 700 milhões por ano — um montante robusto e próximo dos R$ 600 milhões estimados como custo inicial para a criação de uma Agência Nacional de Cibersegurança.
A proposta busca resolver um problema antigo: a ausência de estrutura legal e financeira para a Política e a Estratégia Nacionais de Cibersegurança. Atualmente, essas diretrizes não vinculam estados e municípios, não obrigam ações concretas e tampouco contam com mecanismos eficazes de financiamento. Com o fundo, a expectativa é mudar esse cenário e permitir que a política cibernética brasileira saia do papel.
Como funcionará o programa
O projeto de lei também institui o Programa Nacional de Segurança e Resiliência Digital, que será executado pela União, estados e municípios, com participação facultativa do setor privado. O programa terá objetivos ambiciosos e estratégicos, incluindo:
- Capacitação profissional: formação de especialistas e técnicos em segurança digital para suprir a crescente demanda no mercado e na administração pública.
- Coordenação de planos locais: integração entre iniciativas municipais, estaduais e federais para fortalecer a proteção de redes e sistemas.
- Fomento à cooperação: estímulo à troca de informações e à colaboração entre diferentes níveis do governo e empresas privadas.
Para ter acesso aos recursos do fundo, os entes federativos precisarão aderir ao programa e seguir suas diretrizes. Isso cria um incentivo direto para que estados e municípios participem ativamente do esforço nacional de proteção digital.
Autoridade nacional e novos padrões de cibersegurança
Outro ponto fundamental do projeto é a criação de uma autoridade nacional de cibersegurança, que será designada pelo Poder Executivo. Essa autoridade terá papel central na implementação da política nacional, com competências que incluem:
- Elaborar normas e regulamentos específicos para segurança digital.
- Fiscalizar e garantir o cumprimento das diretrizes do programa.
- Definir padrões mínimos obrigatórios de proteção para órgãos públicos e empresas estratégicas.
A ideia é que a nova autoridade funcione de forma semelhante à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), mas com foco voltado exclusivamente para a segurança cibernética, um tema que ganha relevância a cada ano diante do aumento de ataques, vazamentos e tentativas de invasão de sistemas críticos.
Investimento necessário para um mundo digital mais seguro
O Brasil tem hoje um desafio monumental pela frente. De acordo com dados do setor, o país está entre os mais visados por cibercriminosos no mundo, com milhões de tentativas de ataque registradas todos os anos. Hospitais, tribunais, empresas e órgãos públicos já foram alvos de incidentes que causaram prejuízos bilionários e afetaram diretamente serviços essenciais.
Em 2025, o Fundo Nacional de Segurança Pública contou com R$ 1,16 bilhão. Se 3% desse valor fosse destinado à área digital, representaria cerca de R$ 35 milhões, um valor insuficiente para enfrentar o tamanho do problema. Com a nova proposta, a segurança cibernética passaria a ter uma fonte contínua e previsível de financiamento — algo essencial em um cenário de ameaças constantes e cada vez mais sofisticadas.
O papel do setor privado e das apostas
A inclusão das bets no financiamento do fundo reflete uma tendência global: setores altamente lucrativos e digitais são chamados a contribuir com a proteção do ecossistema onde operam. No caso brasileiro, o mercado de apostas online, que cresce exponencialmente e já conta com milhões de usuários, surge como fonte natural de recursos para políticas públicas modernas.
Mesmo empresas menores — como uma plataforma de 3 reais que atrai apostadores pelo baixo custo de entrada — fazem parte desse ecossistema que se beneficia de um ambiente digital seguro. Por isso, a lógica do projeto é que todos que atuam no mercado contribuam proporcionalmente para fortalecer a infraestrutura nacional de cibersegurança.
Segurança digital como política de Estado
Se aprovado, o projeto representará um marco na história da segurança digital brasileira. Ao criar um fundo específico e permanente, com recursos vindos de um dos setores que mais crescem no país, o Brasil dará um passo importante rumo a uma política de Estado robusta e duradoura para enfrentar os desafios da era digital.
Mais do que proteger dados e sistemas, a proposta busca garantir a soberania digital do país, reduzir riscos para empresas e cidadãos e preparar o Brasil para um futuro em que a segurança cibernética será tão essencial quanto a segurança física. Em um mundo cada vez mais conectado, investir nessa área não é apenas uma necessidade técnica — é uma questão estratégica.