O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) afirma em relatório sobre a Prospect Consultoria Empresarial, de Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, que a empresa movimentou 5 vezes mais dinheiro do que “o esperado” entre os meses de março e maio de 2023 -período que coincide com a farra do INSS, revelada pelo Metrópoles.
O documento, ao qual a coluna teve acesso, foi enviado à CPMI do INSS, que investiga as fraudes em descontos associativos de aposentados e pensionistas. Antunes compareceu a uma reunião do colegiado para prestar depoimento no último dia 25 de setembro, quando negou seu envolvimento nas irregularidades.
Segundo o relatório, a capacidade financeira da Prospect é de R$ 309,1 mil de faturamento. No entanto, entre março e maio de 2023, a média de sua movimentação financeira foi de aproximadamente R$1,5 milhão, ou seja, “considerada a renda, a movimentação extrapolou em 5.06 vezes o esperado”.
A média da movimentação foi baseada nos montantes movimentados nas contas analisadas a crédito no período -que somaram R$ 4,5 milhões -e aqueles a débito -que totalizaram R$ 4,6 milhões.
Levando isso em conta, e o fato de a movimentação ser considerada “elevada e incompatível” com a capacidade financeira do Careca do INSS e “sem justificativas claras”, as operações foram comunicadas ao Coaf.
“O cliente apresentou uma movimentação acima de sua capacidade financeira em todo o período analisado, tendo como principais operações (tanto a crédito quanto a débito): transferências originadas de empresas as quais aparentemente possuem vínculo comercial e do sócio gerente da PJ; e transferências destinadas para diversas contrapartes, tanto PFs quanto PJs”, diz trecho do documento.
Ex-superintendente de marketing de uma gigante do ramo de planos de saúde, Antonio Carlos Camilo Antunes é apontado como operador do esquema de fraudes no INSS e é tido como um dos principais investigados pela Polícia Federal (PF) no âmbito da operação Sem Desconto.
Ele seria responsável por obter, por meio do INSS, dados cadastrais de beneficiários, repassando as informações para as entidades acusadas de fraudar filiações para cobrar mensalidades indevidas.
O Careca do INSS está preso desde 12 de setembro, quando foi deflagrada a operação Cambota, um desdobramento da Sem Desconto. Segundo a PF, a ação apurou a dilapidação e ocultação de patrimônio, além da possível obstrução da investigação.
Uma das suspeitas da corporação é que investigados na Sem Desconto, inclusive o Careca, teriam obtido informações sigilosas sobre as ações deflagradas em abril deste ano por meio do “vazamento da operação”.
Em representação da PF sobre a apuração, a corporação destaca que Antunes teria sido o responsável por pagamentos suspeitos a empresas e parentes de dois ex-diretores e do procurador-geral afastado do INSS.
A coluna mostrou, por exemplo, que o ex-diretor de Benefícios do órgão recebeu R$ 1,4 milhão diretamente do lobista. Já o procurador afastado do órgão teria recebido R$ 7,5 milhões.
Alexandre Guimarães, ex-diretor de governança do INSS, também teria recebido valores do “careca do INSS”, conforme relatou a coluna.
Segundo a PF, ele é sócio de uma “miríade de empresas”, muitas das quais estariam envolvidas na “farra do INSS”, em especial a Prospect Consultoria.
“Verificou-se que as empresas de Antonio Carlos Camilo Antunes operaram como intermediárias financeiras para as entidades associativas e, em razão disso, receberam recursos de diversas associações que, em parte, foram destinados a servidores do INSS”, diz trecho de representação da PF.
Em fluxograma incluído na representação da PF, a corporação aponta que o Careca do INSS teria ligação com entidades como a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), a Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), a Associação de Suporte Assistencial e Beneficente para Aposentados, Servidores e Pensionistas do Brasil (Asabasp), a Associação no Brasil de Aposentados e Pensionistas da Previdência Social, o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap) e a União Nacional de Auxílio aos Servidores Público (Unaspub).

Os valores provenientes dessas entidades teriam sido recebidos por meio da Prospect, uma de suas empresas, e cujo RIF foi enviado à CPMI do INSS.
Seu depoimento para os parlamentares foi marcado por embates, um protagonizado inclusive pelo relator da CPMI, o deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), que o chamou de “senhor Careca do INSS” diversas vezes mesmo depois de Antunes tentar se desvincular do apelido.
Ele depôs protegido por habeas corpus, concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em sua fala inicial, afirmou que somente deixaria de responder as perguntas de Gaspar, e negou ter relação com as fraudes, alegando ser apenas um “empresário próspero”.
Defesa
A coluna entrou em contato com a defesa de Antonio Carlos Camilo Antunes questionando as movimentações financeiras citadas pelo Coaf, mas não houve manifestação.