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Americanas: crise já dá sinais nas lojas de Salvador

Reclamação de calor, falta de produtos e preços altos. Para clientes das lojas Americanas em Salvador, a crise já chegou. Visitamos quatro unidades da varejista que anunciou em janeiro um rombo bilionário, fruto de erros contábeis. Tanto nas lojas de shoppings, quanto nas de bairro, a insegurança dos consumidores e funcionários se repete: preços altos e medo de demissão, respectivamente. Até o momento, não houve corte no quadro ou fechamento de lojas na capital. 

Em fase de contenção de despesas, gerentes de lojas admitem – sob anonimato, para proteção da identidade – que começaram a racionar o uso de ar-condicionado conforme número de clientes presentes. Assim como houve remoção de descontos, promoções e aumento de preços dos produtos. Eles negam previsão para corte de funcionários e a empresa mantém pagamento de salário e benefícios dos colaboradores. A situação, no entanto, não traz segurança para os vendedores, que sentem que podem ser demitidos a qualquer momento. 

A sensação de recessão ainda diverge. Ao chegar nas lojas, tudo parece normal. Mas, aos poucos, é possível perceber os impactos, a exemplo do calor devido ao desligamento da ventilação. As lojas de bairro são as que mais apontam para crise, com prateleiras vazias, lâmpadas desligando e ar-condicionado desligado. Em outras unidades, a exemplo da no Shopping Barra, a principal reclamação dos clientes é os preços. 

Em unidade na Baixa dos Sapateiros, em Salvador, prateleiras estão vazias, mas funcionários dizem que é comum em lojas de bairro

Foto: Esther Morais/ CORREIO 

A Americanas informa que interrompeu alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizados e que ainda vai definir e divulgar quais ações serão tomadas para os próximos meses. “A Americanas atua nesse momento na condução de seu processo de Recuperação Judicial, cujo um dos objetivos é garantir a continuidade das atividades da empresa, incluindo o pagamento dos salários e benefícios de seus funcionários em dia”, diz em nota. 

Risco de demissão
Funcionária da Americanas e diretora do Sintrasuper, instituição que representa trabalhadores dos supermercados, Taina de Jesus confirma que trabalhadores encontram-se preocupados e apreensivos com a situação em que a empresa se encontra. 
“Estão todos à espera dos resultados da reestruturação judicial […] o clima segue tenso sem saber o que irá acontecer”, lamenta. 

Funcionários ouvidos também afirmam ter medo da demissão, ainda mais para quem tem muitos anos na empresa, mas não receberam informações de corte. 

O Sintrasuper, assim como as centrais sindicais (CTB) e federações (FEC Bahia), informa que acompanha a situação da empresa na Bahia. Na sexta-feira (3), a entidade esteve na sede da Americanas, no Rio de Janeiro, em manifestação junto com os sindicatos de todo Brasil em defesa dos direitos dos mais de 44 mil trabalhadores da empresa. .

Presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindilojas-Ba), Paulo Motta diz que, se necessário, a instituição irá intermediar de maneira conciliatória os interesses dos envolvidos na crise da Americanas. “O quadro de risco de demissão se mostra presente, há sinalização de que possa vir acontecer. O momento é de cautela e cuidado. Estamos torcendo para ter reversão [do cenário]”, declara. 

Volta às aulas com preços altos 
Opção para quem vai às compras de início do ano letivo, os valores dos materiais na Americanas não estão agradando os compradores. O estudante Bruno Ferreira, 19, revela que foi para a loja porque achava que os preços estariam mais baratos devido à crise, mas teve uma surpresa ao ver os preços mais altos do que em outras empresas. 

Achei que estaria mais barato. Algumas coisas estão sim, mas outras não. O caderno está com preços salgados. Não parece que está em crise, se tivesse, colocariam tudo a preço de custo ”, reclama. 

A advogada Michele Pereira, 34, também foi ao local fazer as contas para o pequeno Dante, 3. Contudo, precisou garimpar em várias lojas para economizar. A estratégia foi comparar preços e comprar nos locais em que cada item estava com menor valor. 

“Eu pesquisei em três lojas  daqui do Shopping, alguns materiais têm preço discrepante. Lápis estava R$ 14 aqui e na Le Biscuit, bem mais caro. Saí comprando algumas coisas em um e outras, em outro. Aqui as agendas estão mais caras”, observa. 
 

Mãe e filho foram às compras no shopping

Foto: Esther Morais / CORREIO

A reportagem solicitou posicionamento da Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL), cuja resposta foi de que não vai se pronunciar. O Ministério Públio do Trabalho (MPT) da Bahia não comunicou se há ação referente à crise.  

Relembre o caso 
No dia 11 de janeiro, o ex-CEO da companhia, Sérgio Rial, anunciou sua renúncia depois de encontrar “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões nos balanços da empresa de 2022 e de anos anteriores.

Após o anúncio, a varejista  entrou com pedido de recuperação judicial. A empresa confirmou que a dívida da companhia passa dos R$ 40 bilhões e impacta 16,3 mil credores.

O pedido foi protocolado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) e a companhia informa que segue operando normalmente “dentro das novas regras de recuperação judicial” e tem como principais objetivos “manutenção de empregos, pagamento de impostos e a boa relação com seus fornecedores e credores e investidores de forma geral”.

Procon contabiliza 11 reclamações de equipamentos com defeito na Americanas, em 2022
A Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor da Bahia (Procon-BA) contabilizou 23 reclamações, sendo 11 delas relacionadas a vício de produto – quando há defeito ou avaria em mercadorias -, no ano passado. Em 2021, o número de reclamações chegou a 50, sendo 34 com vício de produto. A queda nas denúncias de defeito é de 67%. No total, a redução foi de 54%. 

Neste ano,, o Procon não recebeu denúncia e reclamação referente ao descumprimento de ofertas e entrega de produtos relacionados a Americanas. 

Segundo a diretora de Atendimento do Procon-BA, Adriana Menezes, os vícios – mau funcionamento – se apresentam quando o consumidor compra o produto, mas o item não funciona adequadamente ou quando a embalagem ou venda diz ter determinada quantidade, mas vem menos unidades. “É o caso de um ventilador que a paleta está quebrada, uma louça manchada, um brinquedo faltando peça, uma roupa descosturada, um celular que não fala”, exemplifica. 

A especialista ainda ressalta que o Procon faz fiscalizações com frequência, mas, neste período, o foco está em escolas e no Carnaval. 

Reclamações de âmbito coletivo – quando a causa atinge muitas pessoas – devem ser feitas para a fiscalização através de [email protected] ou pelo aplicativo Procon Ba Mobile. Para reclamações de demanda individual, a denúncia é através dos postos de atendimento do PROCON na capital e interior. 

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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