Reconhecer o cheiro do azeite de dendê lá da outra esquina e imediatamente desejar saborear um bolinho de acarajé ou um abará é uma experiência que só uma baiana é capaz de proporcionar com sucesso.
Por esse e por outro feitos, a história dessas mulheres, elevadas ao patamar de patrimônio imaterial da Bahia, possui um espaço dedicado à tradição do ofício: O Memorial das Baianas de Acarajé.
O equipamento foi inaugurado na Praça da Cruz Caída, no Centro Histórico de Salvador, em junho de 2009. No entanto, o espaço foi degradado pelo tempo e precisou de reformas. Hoje, após nove meses de obras, está completamente revitalizado.
No final da tarde desta terça-feira (17), o prefeito Bruno Reis esteve presente na cerimônia de entrega da revitalização do local. “As baianas representam um dos principais símbolos da nossa querida amada Salvador e finalmente elas têm um lindo memorial. A nossa cidade é isso”, destacou o chefe do executivo municipal.
O espaço físico agora atende às exigências de acessibilidade e segurança. A intervenção também considerou o resgate da função do local para a exposição permanente da história das baianas, realização de eventos e divulgação da gastronomia regional, especialmente do acarajé. A banda de percussão A Mulherada e uma orquestra comandada pelo Maestro Fred Dantas ditaram o ritmo da celebração.
No ofício de baiana de acarajé há 21 anos, Maria Luzia, 84, aprendeu a fazer o bolinho com integrantes da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam), enquanto trabalhava no tabuleiro como ajudante. Por isso, ela comemorou a entrega da obra de revitalização.
“Quando me visto de baiana, me sinto uma rainha. Estou aqui desde 2001, mas estão chegando novas baianas e elas precisam achar um lugar de reconhecimento da nossa profissão. Ter esse espaço aqui é indispensável para isso”, disse Maria Luzia.
Ao contrário do que pensam, até existe baiana sem acarajé, mas não sem orgulho e amor pela tradição. Simone de Souza, 47, é baiana de recepção há 22 anos. Ela é integrante da Abam e vê a reinauguração como uma maneira de levar as profissionais cada vez mais longe.
“Vai atrair muitos visitantes e turistas, porque estava precisando de um memorial para mostrar nossa cultura, que é o que representa a Bahia. Sem baiana não há Bahia, pois somos nós que fazemos o turista levar a nossa cultura para fora. Precisamos ser mais valorizadas e reconhecidas”, afirmou Simone.
Baianas comemoraram muito durante o evento (Foto: Ana Lúcia Albuquerque/ CORREIO) |
Entre o acervo do equipamento, destacam-se indumentárias típicas das baianas e dos baianos, livros de receita, utensílios artesanais e adereços. A curadoria é de Jane Palma, da Fundação Gregório de Matos, com o apoio de Fernando Guerreiro.
Para Rita Santos, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, o local representa o centro da cultura das vendedoras de acarajé, mas também carrega o potencial de inspirar outras no país inteiro.
“Esse espaço está em Salvador porque a cidade é o berço de tudo. Mas, ele é uma referência para a baiana, para a mulher negra do Brasil todo. Mulheres que lutaram muito para que o acarajé e o nosso ofício estivessem no patamar que está hoje”, lembrou.
Na mesma data, o prefeito Bruno Reis completou 45 anos. Em homenagem ao seu aniversário, a canção “Parabéns” foi cantada durante parte da cerimônia.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo