Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Guilherme Boulos e Lula no ato no 1º de Maio 02 de maio de 2024 | 20:15
O pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) defendeu nesta quinta-feira (2) a fala de Lula (PT) em que o presidente fez campanha antecipada para o deputado, durante ato do Dia do Trabalhador na capital, e disse que é o prefeito Ricardo Nunes (MDB) quem faz uso eleitoral da máquina.
“Fico estarrecido com a cara de pau do prefeito Ricardo Nunes. Ele não tem autoridade moral para acusar ninguém em relação ao uso de máquina”, afirmou o deputado federal, após um evento com estudantes da FGV (Fundação Getúlio Vargas), no centro da capital.
Boulos disse que o adversário, que almeja a reeleição, “fala mal” dele e o ataca em inaugurações, utilizando “eventos públicos, com a estrutura da cidade de São Paulo”.
Ele argumentou que Lula fez as afirmações em um evento das centrais sindicais, “não era um evento oficial do governo federal”, e minimizou as acusações de infração à legislação eleitoral por propaganda fora do prazo legal —já que houve pedido de voto, o que é vedado na chamada pré-campanha.
“[Lula] fez uma fala expressando o desejo de voto dele, o desejo de posicionamento político nele das eleições, que não é segredo para nenhum de vocês. Todos sabem que o presidente Lula apoia a nossa pré-candidatura”.
O deputado disse ver exagero nas ações judiciais movidas por Nunes e também por outros adversários após o episódio. Ele encampou o discurso de que o emedebista aproveitou o ocorrido para tirar o foco de problemas da administração.
“O que eu vejo é tempestade em um copo d’água e um certo desespero de um adversário que, apesar do uso da máquina de maneira violenta, de quase R$ 400 milhões em publicidade no último ano, tem dificuldade para convencer a população de que faz um bom governo”, disse.
Boulos tinha publicado em uma rede social, após a polêmica declaração do presidente, uma foto sua ao lado de Lula com uma legenda em tom de provocação: “Parece que tem gente que está desesperada…”.
A reação da pré-campanha do PSOL, desde o primeiro momento em que foi questionada pela imprensa, foi a de não responder diretamente sobre os indícios de violação da lei eleitoral e atacar Nunes.
A equipe de Boulos divulgou ainda na quarta-feira uma nota assinada por Josué Rocha, um dos coordenadores da pré-campanha do PSOL, afirmando que o prefeito “tenta criar uma cortina de fumaça para despistar o uso de eventos oficiais da prefeitura, realizados com dinheiro público, para a promoção de sua candidatura à reeleição —como já noticiado pela imprensa. Ele é quem deve explicações à sociedade”.
O posicionamento faz alusão a uma notícia, publicada pelo portal Metrópoles, de que servidores públicos municipais da área da saúde foram convocados por uma supervisora para comparecer a um evento de Nunes na região de Perus (zona norte) no último dia 12. A administração respondeu ao site que a servidora foi afastada.
A equipe do deputado acompanha os desdobramentos jurídicos do caso, mas há uma avaliação nos bastidores de que, até o momento, o episódio cumpriu dois objetivos: ajudou a difundir a informação de que Boulos é apoiado por Lula e resultou em divulgação espontânea da pré-candidatura.
Com a aproximação de Nunes e Boulos nas pesquisas e a perda da liderança isolada pelo nome do PSOL, a pré-campanha aposta no papel de Lula como cabo eleitoral e nas incursões que ele prometeu fazer na cidade para elevar os índices dele, sobretudo entre os mais pobres e menos escolarizados.
No evento promovido por centrais sindicais, Lula disse que o pleito paulistano seria uma “verdadeira guerra” e pediu para que seus eleitores votem no deputado federal na disputa para a prefeitura.
“Ninguém derrotará esse moço aqui se vocês votarem no Boulos para prefeito de São Paulo nas próximas eleições”, disse Lula. “Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2006, em 2010, em 2018… 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo.”
A legislação eleitoral impõe restrições à propaganda na chamada pré-campanha e proíbe pedido de voto. Advogados consultados pela reportagem afirmaram ver indícios de ilícito eleitoral na fala de Lula, que ficaria sujeito a multa de R$ 5.000 a R$ 25 mil.
A propaganda eleitoral será permitida somente após o dia 16 de agosto, quando as candidaturas já estiverem registradas na Justiça Eleitoral.
Joelmir Tavares/Folhapress