Brasília – A Polícia Federal confirmou neste sábado (18/6) que parte dos restos mortais encontrados na região do Vale do Javari, no Amazonas, são do indigenista Bruno Pereira. A identificação do jornalista britânico Dom Phillips já tinha sido confirmada na sexta-feira. A comprovação da identidade das vítimas ajudou a esclarecer parte das circunstâncias envolvendo os assassinatos. Segundo laudo pericial da Polícia Federal, os dois foram executados com tiros disparados por um tipo de arma e munição muito usada em caças.
Dom e Bruno desapareceram em 5 de junho enquanto percorriam uma viagem de duas horas no Vale do Javari, no Oeste do Amazonas. A região é conhecida por abrigar a maior quantidade de indígenas não-contatados do mundo. A reserva tem sofrido com constantes conflitos com criminosos que tentam explorar as riquezas da região.
Os corpos do jornalista e do indigenista foram identificados com base na arcada dentária. Na sexta, um exame papiloscópico, de impressões digitais, também complementou a identificação de Dom Phillips. De acordo com a PF, não há indicativos de presença de restos mortais de outras pessoas em meio ao material coletado.
Segundo a Polícia Federal, a morte de Dom foi provocada por traumatismo na região do tronco, com lesões na região abdominal e torácica. O laudo relata lesões causadas por um disparo de arma de fogo com munição de balins (esferas de chumbo ou aço que se espalham após um tiro de espingarda), muito comum entre caçadores na região.
O indigenista brasileiro foi morto por traumatismo no tronco e na cabeça, tendo sido alvo de três tiros: dois no tórax e abdômen e um na face. A polícia afirma que os disparos foram feitos com o mesmo tipo de arma de fogo.
INVESTIGAÇÕES
A PF afirma que os peritos vão continuar os trabalhos nos próximos dias, com exames de genética forense, antropologia forense e métodos complementares de medicina legal. O objetivo é identificar totalmente os remanescentes e compreender a dinâmica dos eventos.
Dom Phillips e Bruno Pereira estavam na Amazônia pesquisando para um livro sobre a preservação ambiental. Eles foram vistos pela última vez em 5 de junho, quando navegavam rumo a Atalaia do Norte. Dali, boa parte dos militares começaram a se retirar na sexta-feira, muitos deles fortemente armados, enviados ao local para os trabalhos de buscas. A cidade fica no Vale do Javari, que abriga a segunda maior terra indígena do país, perto da fronteira com o Peru, e é conhecida por sua periculosidade. Atuam na região narcotraficantes, pescadores e garimpeiros ilegais.
ARAS VISITA HOJE O VALE DO JAVARI
O procurador-geral da República, Augusto Aras, viajará para Tabatinga para participar de uma série de reuniões neste domingo (19/6). Ele estará acompanhado de outros procuradores do Ministério Público Federal (MPF), entre eles a coordenadora da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, Eliana Torelly, o coordenador da Câmara Criminal do Ministério Público Federal, Carlos Frederico, e o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena.
De acordo com a PGR, o objetivo da viagem é “discutir medidas e ações de reestruturação da atuação institucional na região amazônica, bem como ampliar a articulação do MPF com outros órgãos públicos com vistas ao combate à macrocriminalidade e ao enfrentamento de violações aos direitos indígenas, direitos humanos e outros crimes registrados na região”.
Os integrantes do MPF devem ter encontros com representantes do Ministério Público em Tabatinga, Exército e Fundação Nacional do Índio (Funai). Além disso, eles devem se encontrar com os integrantes da força-tarefa que apura os assassinatos de Bruno e Dom.
Terceiro suspeito do crime é preso
De acordo com a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), existe um grupo criminoso que estaria envolvido com o assassinato de Dom e Bruno. Já segundo a PF, os irmãos, junto a outros envolvidos, teriam agido por vontade própria.