InícioEditorialEsportesComo o 'irmão mais velho do Bahia' se tornou referência na Europa

Como o ‘irmão mais velho do Bahia’ se tornou referência na Europa

Não, o Manchester City ainda não ganhou a Liga dos Campeões. E nem dá para saber se e quando vai ganhar. A chance mais clara disso acontecer é justamente neste sábado (10), às 16h, diante da Inter de Milão na final da temporada 2022/23 em Istambul, na Turquia. Mas com certeza dá para afirmar que nesta decisão o City chega como favorito e, há algum tempo, também figura como uma das melhores equipes do futebol mundial.

Gestão, contratações, plano tático… são muitas variáveis que formam a filosofia do City Football Group (CFG), dono do Manchester e de mais 12 clubes ao redor do planeta. Entre eles, o Esporte Clube Bahia, que ganhou a assinatura dessa nova certidão como ‘irmão mais novo do Manchester’. Ou se o torcedor preferir colocar o Esquadrão como referência, os ingleses é que são os irmãos mais velhos.

Fato é que o título da Champions não é um fator que valida, de fato, o sucesso ou fracasso do que o Manchester City vem conquistado ao longo dos últimos anos. Isso porque a consolidação dentro da Inglaterra como a equipe mais forte dentro da liga mais competitiva do mundo é fruto de um trabalho a longo prazo. E esse trabalho começa desde agosto de 2008, com a aquisição do clube pelo Abu Dhabi United Group, que veio a se chamar de City Football Group anos depois.

Os primeiros anos são considerados o principal período de adaptação do clube a essa nova era, resultando no primeiro título “apenas” na temporada 2010/11, sob o comando do técnico italiano Roberto Mancini. Na temporada seguinte, o título que talvez tenha mudado os rumos do projeto e do clube Manchester City: o título da Premier League após 44 anos de seca, com um gol no último minuto da última rodada marcado pelo ídolo dos Citizens, o argentino Aguero. Mas o projeto implantado pelo CFG começa a mudar, de fato, a partir de 2012.

Chegada de Soriano

Entrevistado por jornalistas em uma coletiva de imprensa na Arena Fonte Nova no último mês, na oficialização do negócio entre Bahia e CFG, o empresário e CEO do grupo Ferran Soriano falou com autoridade sobre o processo de estruturação a longo prazo, dentro e fora do futebol, do Esquadrão, novo integrante da família City. E foi com a pinta de autoridade em gestão financeira que Soriano foi contratado pelo time de Manchester para, lá em 2012, assumir o cargo de diretor executivo do clube – antes de assumir a função mais geral também no CFG.

Antes do trabalho na Inglaterra, Ferran Soriano havia ocupado o cargo de vice-presidente econômico do Barcelona, e foi um dos responsáveis por reerguer o clube catalão em uma das suas fortes crises, no começo dos anos 2000. Ao lado de Joan Laporta (que hoje voltou a ser presidente do Barça), Soriano participou de projetos como reformas no Camp Nou e renegociação dos direitos de TV que ajudam o clube a se reestruturar financeiramente e montou equipes extremamente competitivas, contando com a presença de craques como Ronaldinho Gaúcho, Eto´o, Henry e as crias da base, Xavi, Iniesta e Messi, por exemplo. Quando chegou em Manchester, Soriano foi tratado como o ‘mago econômico’ que ajudaria no projeto do CFG.

Txiki Begiristain, Ferran Soriano, Khaldoon Al Mubarak e Pep Guardiola (Foto: Reprodução/Twitter)

E se você já conseguiu ligar os pontos, vai entender por quê Pep Guardiola aceitou trabalhar no Manchester City. Mas além de Ferran, outra figura próxima a Pep também se juntou ao time inglês. Trata-se de Txiki Begiristain, que também é catalão e ex-companheiro de Guardiola no Barça, com direito a título de Champions na temporada 1991/92. Txiki também era executivo do Barcelona e foi quem levou Pep ao comando do Time B e, na sequência, efetivou Guardiola como técnico da equipe principal. Ou seja, o projeto do City Football Group em Manchester passa por ‘preparar o terreno’ mesmo antes de contar com um dos – se não o maior – treinadores de todos os tempos.

Alguns podem entender que se tratou de uma “cópia” do modelo do Barcelona. Já outros podem enxergar como um movimento preciso e legítimo de mercado, onde o CFG foi atrás dos melhores profissionais num dos melhores clubes do mundo para que eles pudessem executar um trabalho de excelência em Manchester. E independente da sua interpretação, deu certo.

Prateleira cheia

E o ‘dar certo’, como foi citado na abertura do texto, não significa necessariamente uma mala cheia de canecos da Liga dos Campeões. Pelo menos não para a gestão do CFG. Desde que assumiram o controle do clube, o Manchester City se tornou uma máquina de moer adversários na Inglaterra. Exatamente como planejam os executivos.

Neste ano, por exemplo, pode bater um recorde histórico até hoje só conquistado pelo rival United. A tríplice coroa, que envolve os títulos da Premier League, Copa da Inglaterra e a Liga dos Campeões.

Veja os números dos títulos do Manchester:

Títulos antes da era CFG

De 1894 até 2008: 11 títulos de relevância (2 Campeonatos Ingleses, 4 Copas da Inglaterra, 2 Copa da Liga Inglesa e 3 Supercopas da Inglaterra)

Títulos na era CFG

De 2008 até 2023: 19 títulos de relevância (7 Campeonatos Ingleses, 3 Copas da Inglaterra, 6 Copas da Liga Inglesa e 3 Supercopas da Inglaterra)

Das 19 taças no CFG, 13 delas sob o comando de Pep Guardiola.

E o discurso da Liga dos Campeões não ser uma obsessão do Manchester City nãoo parte de fora para dentro, com a imprensa ou torcida. E sim de quem gere e treina o clube.

“A Premier League é a competição mais importante porque dura mais de 10, 11 meses. Temos sorte de estar em casa com nosso povo para vencê-la”, disse o treinador em coletiva no dia 16 de maio.

E essa forma de pensar acabou sendo importada para o Bahia. Na própria coletiva de oficialização do negócio, Ferran Soriano ressaltou que o projeto que alcançar, antes de tudo, o estado da Bahia. Tornar o clube consolidado dentro de um cenário estadual/regional e seguir com o crescimento dentro do Brasil. 

“A estratégia do City é fácil. Queremos esforços para o Bahia crescer. O foco está na Bahia, em aprofundar o relacionamento com a Bahia. Temos 15 milhões de pessoas que vão apreciar o nosso trabalho. O segundo ponto é o futebol. Temos uma filosofia chamada jogo bonito. O nosso futebol vai estar na ideia de jogar bem o futebol, de ataque, bonito, que é o que os torcedores no mundo querem. Sei que não é fácil implementar isso”, disse na ocasião.

Nem tudo são flores

Apesar do sucesso, a trajetória do Manchester com CFG também é marcada por questões sensíveis e questionáveis quanto ao desenvolvimento econômico do clube. Hoje com 370 milhões de euros por temporada em receitas de patrocínio – número quase 18 vezes maior do que os 21 milhões arrecadados em 2008 – o Manchester City já enfrentou duas acusações por infringir o fair play financeiro de competições. O fair play é um mecanismo que controla os gastos de cada clube, evitando que investimentos sejam feitos sem que esse time gere receitas.

Na primeira delas, há três anos, a Uefa acusou o clube de ações irregulares no fair play e puniu o clube com multa de 30 milhões de euros, além de 2 anos de suspensão de competições europeias. Acontece que a decisão final da Corte Arbitral do Esporte (CAS) foi de anular boa parte das acusações da Uefa por elas já terem prescrito, o que livrou o Manchester da suspensão e a punição ficou apenas nas multas. Agora, quem investiga e acusa é a Premier League. 

A Liga Inglesa diz que o clube infringiu mais de 100 regras do acordo de fair play, maquiando os investimentos que vêm dos Emirados Árabes Unidos com os patrocínios. A liga diz que o clube inflaciona contratos de publicidade para “justificar” a entrada de uma grande quantia de dinheiro do fundo árabe. Vale ressaltar ainda que essa acusação está em processo inicial e não se sabe quando e como será formada a comissão de investigação. E nem se o clube será punido pelas ações.

Pep e o futuro

A grande verdade é que, nas fases turbulentas ou de serenidade em Manchester, o clube se tornou um exemplo de gestão de futebol dentro de campo. Com um treinador que sabe o que está fazendo e como quer alcançar esses objetivos. Pep Guardiola está em seu oitavo ano e pode chegar a completar nove temporadas à frente do clube, mais do que todos os anos que comandou Barcelona e Bayern de Munique juntos. 

E, mesmo que não vença a Liga dos Campeões nesta temporada 2022/23 ou em qualquer outra, o seu legado de trabalho será sempre lembrado. Seja pela sua relação com imprensa, jogadores e torcida, ou pelo detalhamento tático que lhe rende atuações de alta performance como treinador.

E, quando sair do cargo de treinador do Manchester – porque isso vai acontecer em algum momento – o CFG mostra ter as pessoas certas no lugares certos para dar continuidade ao projeto a longo prazo.

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