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Conheça Mocka, cantor que moldou estilo do Harmonia e hoje trabalha com transporte

Guitarrista do Chiclete com Banana no início dos anos 80, Missinho dividia os vocais do grupo com Bell Marques, quando a banda começou a fazer sucesso. Mais que isso, o sem-bandana estava por trás de alguns dos primeiros hits do grupo, a exemplo de ‘Mistério das Estrelas’, ‘Sementes’ e ‘Tiete do Chiclete’. Em 1986, deu um revertério, partiu pra carreira solo, e o resto é história: o Chiclete de Bell voa voa, e Missinho fica no caminho.

Essa pré-história da consagração do Chicletão, que vai da banda Scorpius à saída do cabeludo, muita gente conhece, mas duvido que tenha ciência de que algo bem semelhante marca a história de outra grande banda da Bahia. Moisés de Jesus, o Mocka, hoje com 44 anos, tinha 16 quando assumiu os vocais do Harmonia do Samba, alguns anos antes da chegada de Xanddy.

Assim como Missinho, também estava presente durante a decolagem do grupo nas paradas e, outra parecença, dividia os vocais com a futura estrela da companhia. O movimento de saída de rota é que muda bastante: em novembro de 2001, Mocka dirigia seu Fiat vermelho pela orla de Piatã quando perdeu o controle do veículo, bateu num coqueiro e foi parar em cima de uma barraca de praia. Ficou 15 dias desacordado e lutaria pela vida durante os três anos seguintes.

“Minha vida começou do zero. Dizem que o Harmonia me abandonou, mas não. Eu fiquei em um hospital particular, e o Harmonia pagou. E depois que eu saí, tive toda uma estrutura para me recuperar. Suporte inclusive do Bimba, pra que eu voltasse a viajar como convidado (da banda), pra eu esclarecer a mente, porque eu já tava entrando num período de colapso, de fazer merda, e nem eles sabiam disso. Tô revelando isso agora”, comenta Mocka em entrevista à Baianidades. Não fosse esse suporte, eu já trocaria a comparação de Missinho para Cacik Jonne.

Mudança de estilo
O acidente marcou uma mudança na vida de Mocka até, pelo menos, 2004. Mas cerca de dez anos antes, quando o Harmonia dava os primeiros passos, foi ele quem representou uma mudança na trajetória do grupo, nascido em agosto de 1993, quando Roque César recebeu da mãe, Dona Graça, uma bateria no aniversário. Com primos e amigos, na Rua da Glória, Capelinha de São Caetano, fundou a banda que é um dos casos de sucesso longevo da música baiana.

Mocka entraria na brincadeira em 1º de maio de 1994 e, oficialmente, só vai sair do trabalho no dia 11 de julho de 2011, quando é desligado da banda à sua revelia. Dessa decepção de sair ele prefere não falar muito (até porque ainda não sabe o motivo), mas fala sempre da satisfação de entrar.

“Eu participava dos sambas juninos, que foi quando fui tendo amor pelo samba de roda. E quando cheguei no Harmonia com o samba de roda, era novidade. Não ficava no partido alto, e sacudia o povo. Muita influência nossa que hoje toca pagodão, veio do samba de roda, do samba duro do Recôncavo. E tá no sangue”, comenta Mocka, que nem sabia, mas tinha avô e tio músicos dessa vertente.

A chegada ao Harmonia não foi das mais tranquilas, mas também influenciaria na formação do grupo até hoje. “Como eu gostava de ficar tocando samba duro, participava de festivais juninos de samba de roda. Foi  onde conheci Deco e Luciano, e a gente tocava junto no grupo Geração do Samba”, lembra Moisés.

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Já no Geração, lembra da ocasião em que foi a uma apresentação do Harmonia, na Capelinha. “Era, inicialmente, um grupo no estilo Fundo de Quintal. No outro final de semana, fomos dar uma canja lá. Antes de eu ir embora, Bimba me chamou e falou que o grupo ia tocar em Pau da Lima, e me convidou. Nessa brincadeira, antes de começar a tocar, Bimba falou: ‘quem vai começar tocando é ele’, que era eu. Aí eu botei uma sequência de samba de roda, ele já gostou. Quando terminou, me chamou pra banda”, recorda sobre os primeiros contatos com o amigo, Mestre Bimba, maestro do Harmonia.

Quebrar no pau
Na época, o Harmonia não era conhecido, mas tinha organização, como lembra Mocka, e foi justamente o que o motivou a se apalavrar com a turma. Mas a fofoca correu rápido, e logo os parceiros Deco e Luciano, do Geração, souberam de tudo. “Os caras ficaram com raiva, disseram que iam me quebrar no pau, mas hoje a gente dá risada disso”, afinal, tanto Deco quanto Luciano (citado em ‘a Viola do Lu é massa’) passaram a fazer parte do Harmonia.

O período como único cantor do grupo durou até 1998, quando Xanddy também impressionou Bimba e companhia. “Ricardo, saxofonista, deu a ideia pra ter uma sombra no Mocka aqui. Eu não tinha muita noção do que era isso. Xanddy era de outra banda, chegou com aquele vozeirão de Reinaldo, do Terra Samba. E aí começou aquela euforia. ‘Esse cara canta muito’. E aí, pronto, ele foi convidado, eu tomei aquele susto. Fizeram uma reunião e perguntaram a mim se dava pra somar com o cara, e tocar o surdo. Como a minha tendência era, além de cantar, ver a gente crescer mais e mais, Xanddy entrou”, relembra sobre o aval.

Fora dos vocais principais, tocando surdo, só lembra de ouvir o coro de fãs quando abria as apresentações do Harmonia antes da passarela principal do Carnaval, no Campo Grande. Hoje, com a esposa e os dois filhos, leva a vida no caminho que é possível, trabalhando numa empresa de transportes. “Sou profissional de volante. Levo vidas”, e leva a vida em harmonia, como se deve.

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