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Crise na UFBA: Faculdade de Medicina e IHAC divergem sobre vagas de Medicina para B.I de Saúde

Após uma decisão polêmica, o Conselho Acadêmico de Ensino (CAE) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) suspendeu por três anos a oferta de vagas no curso de Medicina para os alunos do Bacharelado Interdisciplinar (BI). A medida, que vale a partir de 2025, foi justificada pelo diretor da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), que alegou a necessidade de preservar a qualidade do ensino e os recursos da instituição.


Em nota divulgada pelo jornal Correio, o diretor da FMB ressaltou que a suspensão das vagas não afetará as políticas afirmativas da universidade, uma vez que as cotas para estudantes negros, indígenas e de baixa renda continuarão sendo garantidas. Contudo, os alunos da UFBA discordam.

Na nota, o diretor da faculdade, Dr. Antonio Alberto da Silva Lopes, alega que a decisão foi tomada em virtude do aumento significativo de processos judiciais:

“Gostaria que fosse observado que um grande problema que as vagas para o curso de Medicina via BI têm gerado é o número crescente de medidas judiciais, obrigando a UFBA a acolher um grande excesso de estudantes no curso de Medicina nos últimos quatro anos, sob pena de multa diária,” destaca o diretor da FMB.

A decisão do CAE foi respondida com indagação pelos alunos dos Bacharelados Interdisciplinares (BIs) do Instituto Milton Santos; muitos se manifestaram com indignação contra a medida. Os estudantes de saúde já declararam sofrer com sérios problemas na disputa pelas vagas, como pressão excessiva e falta de garantias.

Em nota, o Instituto de Humanidades, Artes & Ciências (IHAC) da UFBA classificou a decisão como: “decisão precipitada sobre a retirada de Medicina pode comprometer não apenas o projeto pedagógico dos BIs, mas também conquistas importantes no campo das políticas afirmativas e da inclusão social na universidade.”

O IHAC revelou ainda que vai recorrer à ação, “buscando ampliar o debate e encontrar alternativas que minimizem os impactos dos processos judiciais e os ingressos por judicialização no curso de Medicina, sem comprometer o projeto dos Bacharelados Interdisciplinares (BI).”

Além da posição institucional, docentes também se manifestaram. O professor Leandro Colling, do IHAC, em suas redes sociais, adjetivou a medida como ataque às políticas de cotas:

“Eles entram na Justiça com o argumento de que os cotistas usam novamente as cotas ao ir para Medicina. Ora, sabemos que a política de cotas nunca previu que a pessoa negra, por exemplo, pudesse usar as cotas apenas uma vez em sua vida! Tanto é verdade que a pessoa cotista pode usar o sistema de cotas na graduação e pós-graduação,” declara o professor.

O Bahia Notícias procurou alguns estudantes do Instituto. Vários alunos relataram temer por represálias e pediram o anonimato. Alguns estudantes do BI toparam dar entrevista à nossa equipe.

Uma estudante do Bacharelado Interdisciplinar de Saúde do 1° semestre destaca que a medida representa uma ameaça à diversidade no curso:

“A decisão da suspensão da oferta das vagas de Medicina, destinadas ao processo seletivo interno de egresso do Bacharelado Interdisciplinar de Saúde, provoca uma redução da diversidade de estudantes que adentram a Faculdade de Medicina, tanto pelo perfil demográfico dos estudantes do BI quanto pelo perfil acadêmico,” conta a aluna.

Em entrevista, a mesma estudante destaca que a decisão pode gerar uma alta quantidade de evasão universitária e que a proposta e o argumento dado pelo diretor da FMB não resolvem o problema:

“Além disso, essa decisão somente retarda o problema de superlotação da Faculdade de Medicina, pois não soluciona o problema em sua essência e abre o precedente para que outros cursos façam o mesmo,” destaca a aluna.

Para além dos estudantes da área de saúde, uma aluna de 6° semestre de Ciência e Tecnologia, Ruana Melo, afirma que a decisão vai gerar um efeito cascata com o preconceito que esses alunos enfrentam na universidade:

“É de conhecimento comum que professores em diversos institutos falam abertamente sobre não gostar de dar aulas para pessoas do BI, seja de qualquer um dos quatro. Essa decisão levará a outras faculdades da universidade a tomarem essa mesma decisão, prejudicando os discentes do IHAC.” declara a estudante.

Outra aluna do BI ligado à área de Humanidades, no seu 4° semestre, considera a decisão um “retrocesso sem tamanho”, pois garante que, apesar das dificuldades, alunos pertencentes a minorias sociais conseguem ingressar em cursos disputados da universidade após muito trabalho.

Para uma aluna recém-egressa de Medicina e formada pelo BI de Saúde, a medida é um reflexo do elitismo da faculdade pública:

“Esse é um projeto. Cursos como Psicologia e Medicina são cursos extremamente elitistas. Você pode observar que nos outros BIs, como o de Humanidades, por exemplo, a galera é abraçada pelo curso de Direito. Mas é muito difícil manter um diálogo assertivo com a FMB, justamente porque é uma faculdade extremamente elitista e que não tem interesse que o pessoal dos Bacharelados Interdisciplinares esteja ali, ocupando esse espaço, principalmente porque sabemos qual é a cara do pessoal do BI em Saúde, e com certeza, a maioria não é branca,” desabafa a estudante.

A reportagem do Bahia Notícias procurou a UFBA, que não se pronunciou sobre o assunto, já que segundo a assessoria de imprensa, que a medida está sendo discutida com uma possível atualização do caso em novembro. 

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