(FOLHAPRESS) – Em uma eleição que teve um racha na direita entre suas principais marcas, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu colocar um aliado na Prefeitura de Cuiabá, mas colecionou derrotas no segundo turno, em cidades como Belo Horizonte, Goiânia e Fortaleza.
Inelegível em decorrência de decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ele também teve contestada sua posição de único líder da direita e bateu de frente com pretendentes desse campo político a uma candidatura à Presidência da República em 2026.
A disputa interna nesse grupo, bem como a postura dúbia de Bolsonaro em algumas cidades, deixou cicatrizes e tornou o mandatário alvo de críticas disparadas por integrantes e eleitores da própria direita.
No episódio mais recente, foi chamado pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) de deselegante e desrespeitoso, mas a coleção de expressões desse fogo amigo inclui outras, como “porcaria de líder”, “caminho mais errado” e indiretas nem sempre sutis. Confira:
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‘BOLSONARO FOI EXTREMAMENTE DESELEGANTE’
Caiado e Bolsonaro têm uma relação de altos e baixos e travaram uma disputa em Goiânia. O ex-presidente apoiou o candidato Fred Rodrigues (PL), que foi derrotado por Sandro Mabel (União Brasil), o escolhido pelo governador.
Com a vitória, Caiado afirmou neste domingo (27) que sua forma de fazer política venceu a de Bolsonaro, cujas atitudes ele classificou como desrespeitosas, fruto de uma pessoa que se acha dona da verdade e dos votos.
“O que aprendi na minha vida é exatamente a fazer política. Eu faço política aglutinando forças, trazendo condições para que o projeto vá adiante. Sou o único governador que ganhou a eleição no primeiro turno. Ganhei a eleição do prefeito da capital e de toda a região metropolitana. Isso mostra que quem acertou na maneira de fazer política fui eu”, disse o governador ao ser questionado sobre qual resposta daria a Bolsonaro.
“Não sou homem de fechar a porta para ninguém. Bolsonaro foi extremamente deselegante, até desrespeitoso, mas acho que, com a idade – e eu tenho alguns anos a mais – poderei transmitir a ele como é comandar um processo, como aglutinar forças e respeitar as lideranças de cada estado”, disse Caiado após a vitória de Mabel.
Caiado disse que, apesar disso, buscará conversar com Bolsonaro para aglutinar forças e derrotar Lula (PT) na eleição presidencial de 2026.
‘LEALDADE É ALGO FUNDAMENTAL NA POLÍTICA’
Em campanha em setembro, Ricardo Nunes (MDB), reeleito prefeito de São Paulo, reuniu aliados políticos de peso em um evento na Vila Olímpia (zona sul) -mas o político mais saudado foi o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Em seu discurso, Nunes agradeceu a lealdade de Tarcísio e afirmou, sem citar Bolsonaro, que nem todos estiveram ao lado dele no momento mais difícil da campanha.
“Hoje estamos bonitos na foto, está bem encaminhado. […] Tarcísio esteve comigo em todos os momentos, os fáceis e os difíceis. […] Não foram todos que fizeram isso, Mello, você sabe. […] Lealdade é algo fundamental na política”, disse, em campanha na Vila Olímpia.
Após o evento, ao ser questionado pela Folha de S.Paulo, Nunes disse que não se referia a Bolsonaro.
‘QUE PORCARIA DE LÍDER É ESSE?’
Em entrevista à colunista da Folha de S.PAulo Mônica Bergamo, dois dias depois do primeiro turno, um dos maiores apoiadores de Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, expressou sua decepção com o ex-presidente e o acusou de se omitir nas eleições municipais de São Paulo por medo de ser derrotado por Pablo Marçal (PRTB).
“Ele [Bolsonaro] não é criança. Sabe o que ele fez [na eleição de SP]? Jogou para os dois lados. Eu desafio: entra nas redes de Bolsonaro e dos filhos dele. Não tem uma palavra sobre a eleição de São Paulo. É como se ela não existisse. Que porcaria de líder é esse?”, disse.
Menos de 48 horas depois de chamar o ex-presidente de covarde e omisso por causa de seu papel nas eleições municipais, o líder evangélico afirmou que fez as pazes com Bolsonaro, que o ex-presidente estava indignado e que o entendia por isso. “Ele, claro, com muito direito, senão ele não seria um ser humano.”
‘ESCOLHEU O CAMINHO MAIS ERRADO DA VIDA DELE’
Durante a campanha no final de setembro, Marçal afirmou que Bolsonaro “escolheu o caminho mais errado da vida dele”, em referência ao apoio do ex-presidente à reeleição de Nunes.
Líderes do campo bolsonarista compartilharam um vídeo em que Bolsonaro critica Marçal por ter comparado a cadeirada que recebeu do apresentador José Luiz Datena (PSDB) com a facada desferida contra o ex-presidente em 2018.
Questionado sobre o vídeo, Marçal respondeu que Bolsonaro escolheu o caminho errado -assim como já havia afirmado sobre o governador Tarcísio, principal cabo eleitoral de Nunes. No entanto, não se estendeu na crítica.
“Eu não vou me levantar contra ele, que eu sei que foi alguém levantado por Deus. [Silas] Malafaia também, não vou levantar”, afirmou.
O ex-coach também já declarou que Bolsonaro quer colocá-lo “no hall de pessoas que ele ajudou e que viraram as costas para ele”, mas que, na verdade, foi Marçal quem o teria ajudado na campanha de 2022, pedindo votos e investindo recursos.
‘TEM QUE VOTAR EM QUEM O BOLSONARO MANDA’
O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) foi, durante a presidência de Bolsonaro, um ferrenho defensor do governo. A relação entre o deputado e o bolsonarismo se desgastou recentemente por causa das eleições municipais. O parlamentar apoiou o prefeito reeleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), contrariando as orientações do ex-presidente.
“Para que você seja bolsonarista, precisa concordar com tudo o que Bolsonaro diz e pensa. Tem que votar em quem o Bolsonaro manda. Por isso é que eu sou um ex-bolsonarista. Porque eu tenho vida própria”, disse, em entrevista à Folha de S.Paulo.
‘VOU DE BOULOS SÓ DE RAIVA’
Bolsonaro também sofreu críticas nas redes por seu apoio a Nunes após Marçal não passar ao segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo. Diversos comentários foram feitos em sua conta no Instagram: “vou de Boulos só de raiva agora”, “espero que Boulos seja eleito” e ainda “espero que o Boles ganhe”, citando o apelido dado por Marçal ao candidato do PSOL Guilherme Boulos, derrotado na segunda rodada da disputa.
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