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É possível apostar em bet e não se viciar? O que diz a Ciência

A palavra ‘bet’ explodiu nos últimos tempos e começamos a ver uma lista de nomes com ‘bet’ em muitas propagandas, aplicativos e relatos de pessoas perdendo dinheiro com essa prática, mas será que apostar em bet pode se tornar um vício?

“Bet” é um termo amplamente utilizado para se referir a apostas em geral, mas ganhou popularidade nos últimos anos devido à proliferação de plataformas de apostas online. No contexto moderno, “bet” pode se referir tanto ao ato de apostar em eventos esportivos, cassinos ou outros tipos de jogos de azar, quanto às plataformas digitais que oferecem esses serviços.

Essas plataformas permitem que os usuários façam apostas em diferentes modalidades, como:

  • Esportes: futebol, basquete, corridas de cavalos, entre outros.
  • Cassino online: jogos como roleta, caça-níqueis e pôquer.
  • Eventos específicos: até situações não esportivas, como eleições.

As bets oferecem comodidade e uma experiência virtual que simula o ambiente de um cassino tradicional. No entanto, elas têm características que as tornam potencialmente viciantes, como a facilidade de acesso, o marketing agressivo e a gamificação das apostas.

Agora que o contexto foi explicado, imagine esse ambiente para quem já tem a compulsão por jogos e apostas. Então, a Ciência estuda o comportamento dos jogadores e como o vício se manifesta.

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A primeira pergunta é: é possível jogar sem se viciar em apostas? A resposta é sim, mas antes de respirar aliviado ou roer as unhas de preocupação, é preciso entender como o vício afeta determinados tipos de pessoas.

Apostar sem se viciar é possível para muita gente, isso também é um fato, mas o comportamento problemático ou o vício em apostas é uma condição séria que pode afetar a vida de alguns indivíduos. 

O vício em jogos, também conhecido como transtorno do jogo, é reconhecido como uma condição de saúde mental pelos principais manuais diagnósticos, como o DSM-5, e caracteriza-se pelo comportamento persistente e incontrolável de apostar, apesar de prejuízos sociais, financeiros e emocionais.

Celular com apps de apostas, apostar em bet pode ser um vícios
(Imagem: Saulo Ferreira Angelo / Shutterstock.com)

O que é o vício em apostas?

O transtorno do jogo envolve sinais como a necessidade de querer apostas mais e mais e fazer apostas maiores a cada vez, como se testasse o limite e o risco. Essa atitude visa obter a mesma excitação a cada aposta. Outros sinais do vício são as tentativas frustradas de parar, usar as apostas como forma de lidar com emoções negativas e comprometer relacionamentos ou responsabilidades. 

Esse comportamento está associado a mudanças neurobiológicas no cérebro, semelhantes às observadas em dependências químicas, que envolvem o sistema de recompensa e a regulação de impulsos.

Segundo estudos, o vício em apostas se manifesta por meio de alterações neurobiológicas no cérebro, especialmente no sistema de recompensa, que envolvem dopamina e mecanismos de controle de impulsos semelhantes aos observados em dependências químicas.

De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o transtorno do jogo é caracterizado por:

  1. Preocupação excessiva com jogos de azar;
  2. Necessidade crescente de apostas maiores;
  3. Incapacidade de parar ou reduzir o comportamento;
  4. Usar o jogo como fuga emocional;
  5. Mentir para esconder o hábito;
  6. Comprometer relacionamentos e responsabilidades.

Estágios de progressão

O transtorno geralmente começa como um comportamento recreativo, mas pode evoluir para:

  1. Fase de ganho, em que pequenas vitórias iniciais reforçam o comportamento.
  2. Fase de perda, em que a pessoa aumenta as apostas para recuperar perdas, entrando em um ciclo de dependência.
  3. Fase de desespero, quando há um comprometimento severo das finanças, relações e bem-estar emocional.

A ciência também ressalta que, embora apenas uma pequena parcela dos que apostam desenvolvam o transtorno (cerca de 1-3% da população adulta em países como os EUA), o impacto é devastador para os afetados, tornando essencial o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.

Esses dados estão publicados em um estudo publicado na SciELO Brasil, que explora a motivação e os comportamentos relacionados ao jogo patológico.

Mãos da mulher com fichas de poker em uma mesa redonda de jogos
(Imagem: Shutterstock)

E por que algumas pessoas não se viciam?

É preciso entender que nem todos os que apostam desenvolvem vício. Estudos indicam que fatores genéticos, psicológicos e ambientais desempenham papéis importantes. Pessoas com maior capacidade de autocontrole, que se relacionam bem em suas esferas sociais e um entendimento crítico do jogo (como reconhecer que as apostas são, por definição, perdas esperadas) tendem a lidar melhor com a atividade sem perder o controle.

A facilidade de acesso às apostas (incluindo plataformas online), campanhas publicitárias e normalização social do jogo aumentam a exposição e o risco de dependência, especialmente entre jovens. A combinação de vulnerabilidade individual e estímulos externos pode levar ao desenvolvimento do transtorno em algumas pessoas.

Para evitar o vício de apostar em algum tipo de bet, algumas estratégias para jogar com responsabilidade podem ser adotadas. Estabeleça limites claros de tempo e dinheiro, evite apostar como forma de escapar de problemas emocionais e reconheça os sinais de comportamento problemático para buscar ajuda precocemente.

O papel de grupos como os Jogadores Anônimos

Jogadores Anônimos (JA) é uma irmandade de homens e mulheres que se reúnem para tratar o jogo compulsivo. O objetivo é manter a abstinência do jogo, recuperar uma forma normal de viver e ajudar outros jogadores a fazerem o mesmo. 

O programa JA é baseado em 12 passos e foi criado em 1935 por Bill W. e Dr. Bob S., os mesmos fundadores do Alcoólicos Anônimos. O método de 12 passos foi inicialmente criado para tratar o alcoolismo, mas foi depois estendido para outros tipos de dependência química e compulsões. 

Para fazer parte do JA, o único requisito é o desejo de parar de jogar. Não há taxas de admissão ou mensalidades, e os grupos são autossuficientes através das contribuições dos membros. O JA não está associado a nenhuma organização, partido político, religião ou seita. 

O jogo compulsivo é uma doença progressiva e incurável, mas pode ser detida. O JA acredita que os jogadores compulsivos são pessoas doentes que podem se recuperar se seguirem o programa. Se você ou alguém que conhece tem problemas com o jogo, pode procurar um grupo de JA para participar de uma reunião.

Imagem ilustrativa para apostar em bet pode ser um vício
(Imagem: Shutterstock)

Os Jogadores Anônimos (JA), assim como outros grupos de apoio, oferecem suporte a quem enfrenta o transtorno. Seguindo um modelo de ajuda mútua, eles ajudam indivíduos a reconhecer e gerenciar a compulsão por meio de reuniões e troca de experiências, promovendo um dia de sobriedade por vez. O jogo responsável é possível, mas requer atenção e autoconsciência. Para quem sente que está perdendo o controle, buscar apoio profissional ou comunitário é fundamental.

Laura compartilhou que o JA salvou sua vida. Para ela, as reuniões são espaços de acolhimento onde as pessoas podem compartilhar suas histórias sem julgamento. Ela enfatiza que o tratamento é feito “um dia de cada vez” e que o anonimato é essencial para o sucesso do grupo.

Luiz, outro participante, reforçou que os recém-chegados são considerados os mais importantes nas reuniões, pois precisam de apoio imediato. Ele menciona que muitos chegam ao grupo se sentindo derrotados, mas encontram ali uma segunda chance. 

Esses e outros inúmeros relatos estão em depoimentos coletados em estudos e matérias sobre o JA, muitos participantes mencionam como o vício em jogos afetou suas vidas financeiras, sociais e emocionais antes de ingressarem no grupo. Um dos pontos em comum é a sensação de pertencimento ao encontrar outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes. Isso os ajuda a lidar com a vergonha e a culpa associadas ao vício.

Homem demonstra que apostar em bet pode ser um vício
(Imagem: Studio Romantic / Shutterstock)

Se notamos a popularidade das bets, é porque realmente as apostas online têm crescido, especialmente em países onde o jogo online foi regulamentado. Embora representem uma oportunidade de entretenimento, também levantam preocupações sobre endividamento, impacto em famílias de baixa renda e o aumento de problemas relacionados ao vício em jogos.

Se estiver interessado em apostas, é crucial entender os riscos e a importância de praticar o jogo responsável, estabelecendo limites claros para evitar problemas futuros. E agora que sabe o risco, inclusive o relatado pela Ciência, se você tiver algum traço genético ou biológico para o vício, espero que não queira apostar para ver.

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