26 setembro, 2025
sexta-feira, 26 setembro, 2025

50% dos antibióticos hospitalares são usados de forma errada

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Um homem de óculos, terno escuro e gravata lilás aparece em close. Ele gesticula com a mão direita enquanto fala, transmitindo seriedade

Você consegue imaginar qual será a maior ameaça à saúde global nas próximas décadas? Embora muitos associem essa questão ao câncer ou aos problemas cardíacos, um aviso ainda mais urgente começa a surgir nas discussões de saúde pública: a resistência antimicrobiana. Essa questão, considerada uma “pandemia silenciosa”, já resulta em milhões de mortes anualmente e, se nada for feito, pode se tornar a principal causa de óbitos até 2050.

A resistência antimicrobiana acontece quando bactérias, vírus ou fungos tornam-se insensíveis aos medicamentos convencionais, principalmente os antibióticos. O infectologista David Uip, em um encontro sobre o tema, trouxe à tona o drama dessa situação: “É constrangedor diagnosticar um paciente e perceber que quase todas as opções de tratamento já não funcionam. Chega um momento em que realmente não há mais medicamentos eficazes.”

Esse fenômeno é o resultado de décadas de uso excessivo e inadequado de antibióticos, aliado à falta de investimento em novas pesquisas. O impacto é alarmante: procedimentos simples, como cesarianas, podem se tornar perigosos, lembrando os tempos anteriores à descoberta da penicilina.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que, em 2019, cerca de 7,7 milhões de pessoas faleceram em decorrência de infecções bacterianas, das quais 4,95 milhões foram diretamente relacionadas à resistência antimicrobiana. As projeções mais sombrias indicam que, até 2043, uma pessoa poderá sucumbir a infecções por superbactérias a cada três segundos em todo o mundo.

Diferente da Covid-19, que explodiu em surtos visíveis e imediatos, a resistência antimicrobiana age silenciosamente, infiltrando-se nos hospitais e na nossa rotina. Uip há anos alerta que essa realidade não é nova; a resistência vem crescendo e, sem intervenções, os riscos só aumentarão.

A boa notícia é que, com um investimento relativamente baixo de US$ 9 bilhões anuais direcionados a países em desenvolvimento, é possível mitigar esses efeitos devastadores. É um valor irrisório em comparação aos trilhões gastos em emergências de saúde recentes.

Com a escassez de opções, médicos têm recorrido a antibióticos antigos, como a polimixina, uma medicação da década de 1940. Contudo, o desenvolvimento de novas classes de antibióticos tem sido decepcionante, com apenas 43 medicações atualmente em pesquisa, todas baseadas em gerações anteriores — nenhuma delas comprovadamente eficaz contra as bactérias resistentes que já circulam.

“O gargalo está na política pública e privada. A indústria farmacêutica brasileira é competente, mas precisa de incentivo. Se houver parcerias públicas e privadas, podemos avançar. É uma oportunidade para o Brasil, se houver visão estratégica.”

Durante a Covid-19, o mundo assistiu ao colapso hospitalar em tempo real, mas a resistência antimicrobiana se apresenta como um tsunami em câmera lenta. Cada infecção mal tratada e a automedicação apenas agravam o quadro.

O impacto da resistência não se limita às UTIs lotadas; ele se reflete em situações do cotidiano: uma cesariana, uma cirurgia ortopédica ou um simples tratamento estético. Uip alerta: “Você pode entrar para uma cirurgia e sair portando uma bactéria multirresistente.”

Além disso, o retrato da desigualdade é alarmante: 70% dos países carecem de estruturas adequadas para controlar o uso de antimicrobianos, fator que acelera a disseminação da resistência. Enquanto isso, países desenvolvidos investem em mapeamento e controle eficazes de surtos.

A automedicação é outra engrenagem que contribui para essa crise. Nos hospitais, cerca de 50% dos antibióticos prescritos são inadequados, o que levanta um alerta sobre o que acontece fora deles, nas farmácias e casas.

“Muitas vezes, o paciente chega exigindo antibióticos, mesmo onde não são indicados. Essa pressão pode levar a decisões inadequadas por parte dos médicos.”

Um fio de esperança, no entanto, se forma diante do avanço em biologia molecular e inteligência artificial. Pesquisadores têm sequenciado milhões de proteínas, abrindo portas para potencial criação de novos medicamentos. Uip, entretanto, alerta: é necessário unir ciência a políticas públicas eficazes, investimento em saneamento e educação em saúde para que a luta contra a resistência antimicrobial seja bem-sucedida.

No final, a mensagem é clara: a resistência antimicrobiana é responsabilidade de todos — desde o indivíduo que coleta antibióticos em casa até os médicos, indústrias e poderes públicos. O engajamento coletivo é fundamental para impedir que essa pandemia silenciosa cresça sem controle.

A resistência antimicrobiana não é um problema distante; ela afeta hospitais, clínicas e nossas próprias casas. Se não formos proativos, em 2050 poderemos ver morrer uma pessoa a cada três segundos devido a infecções por superbactérias. Esse número não é só uma estatística; são vidas que podem ser salvas com ações assertivas no presente.

As pequenas escolhas que fazemos hoje, como evitar a automedicação e exigir um uso responsável de antibióticos, podem moldar o futuro que desejamos. Vamos juntos enfrentar essa batalha silenciosa antes que seja tarde demais. O que você pensa sobre isso? Compartilhe seus pensamentos nos comentários.

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