
A atmosfera de celebração tomou conta da comunidade de Santo Antônio do Descoberto (GO) após uma decisão judicial que suspendeu as desocupações na fazenda Antinha de Baixo. Na última terça-feira, 5 de agosto, a 1ª Vara Cível do município transferiu a competência do caso para a Justiça Federal, trazendo um alívio temporário para os moradores, que temiam perder seus lares.
A situação se tornou crítica quando cerca de 1,6 mil pessoas estavam à mercê de ordens de despejo, resultado de uma decisão do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) que reconhecia a propriedade da terra a herdeiros de figuras históricas, como Maria Paulina Boss, tia do governador de Goiás. O clima de incerteza pairava sobre a comunidade, enquanto casas eram desocupadas e derrubadas sob a supervisão de Murilo Caiado, primo do governador.
A nova decisão, embora traga esperança, não anula as ordens anteriores. As 32 casas já desocupadas permanecem sob a posse dos herdeiros mencionados, mas a luta dos moradores está longe de acabar.
O agricultor Mário Silva expressou a satisfação dos habitantes com a decisão judicial: “Sempre fomos chamados de invasores, mas temos documentos que provam nossa posse.” Ele exemplificou a presença de moradores que, como Seu Joaquim, de 86 anos, têm raízes profundas na região, ressaltando a injustiça de serem rotulados como invasores. “Como podem desmerecer a história dessa família?”, questiona com indignação.
Enquanto a reação à decisão foi de alívio, a tristeza também permeou o ambiente, especialmente para aqueles que já perderam suas casas. A professora Railda Oliveira, com 33 anos de história naquela comunidade, reconhece a dualidade de sentimentos. Ao mesmo tempo que celebra a suspensão dos despejos, lamenta por aqueles que sofreram perdendo o que construíram ao longo de gerações. “Meus sentimentos se dividem entre a alegria pela suspensão e a tristeza pelos que já foram prejudicados”, confessa.
Ainda há tensões com a família Caiado, que os moradores afirmam ter os ameaçado após a decisão. “A situação permanece tensa e precisamos de proteção para assegurar que todos possam viver em paz aqui”, alerta Railda. Assim, a luta não se limita apenas à posse da terra, mas também à restauração das vidas que foram abruptamente interrompidas.
Compreenda a situação:
- A Justiça Federal agora é responsável pela comunidade de Antinha de Baixo, impossibilitando novas ordens de despejo pelo TJGO.
- As 32 casas já desocupadas permanecem sob a posse dos herdeiros, e o conflito permanece sem resolução total.
- O INCRA pediu intervenção, alegando que a região abriga uma comunidade tradicional quilombola com histórico de ocupação.
- Se confirmado, a Justiça Federal terá a responsabilidade de determinar o futuro da área, conforme diretrizes do Superior Tribunal de Justiça.
Mesmo com a decisão que favorece os moradores, muitos já perderam suas casas devido à ordem de desocupação que começou a ser cumprida dias antes. A presença da Polícia Militar e de seguranças privados criou uma atmosfera de medo, forçando as famílias a evacuarem rapidamente e a deixarem para trás animais e bens. Katleen Silva, uma agricultora local, compartilhou sua preocupação: “Perdi minha galinha e deixei meus peixes com um vizinho. É devastador.”
Relatos dos moradores:
A resposta da Secretaria de Comunicação do Governo de Goiás destaca que o governador Ronaldo Caiado não é parte do processo, reforçando que sua conexão com os herdeiros não implica em envolvimento nas decisões. A situação na comunidade Antinha de Baixo é uma lembrança gritante dos desafios enfrentados por muitas famílias. Quais são suas opiniões sobre essa situação? Compartilhe seus pensamentos nos comentários.