Arte, corpo e ancestralidade: a noite como protagonista na nova mostra no Rio Vermelho

Obra “Quando a noite cai”, de Lucimélia Romão – Foto: Divulgação

A exposição Bonita é a noite com sua fundura, que ocorrerá na RV Cultura e Arte, no Rio Vermelho, convida você a explorar a espessura e o mistério da noite. Sua abertura, marcada para este sábado, 27, às 10h, celebra os seis anos do Instituto Práticas Desobedientes, reunindo obras que investigam a escuridão, a memória e a imaginação como poderosas expressões artísticas e políticas.

Sob a curadoria de Tarcisio Almeida e George Teles, com texto crítico de Jamile Cazumbá, a exposição traz trabalhos inéditos de treze artistas que fazem parte do programa do Instituto em 2025. Entre eles, destacam-se Alíson Souza, Ema Ribeiro, e Dayane Ribeiro, que, com sua performance de abertura, conecta a arte à ancestralidade.

“Estar presente neste espaço no dia de São Cosme e Damião é privilegiado. A data convoca alegria e partilha, energias que influenciam diretamente minha ação performativa”, reflete Dayane. Essa interação entre o sagrado e o artístico torna a noite um cenário fértil para a criação e a reflexão.

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A exposição abrange diversas linguagens, como performance, fotografia e escultura, explorando a “escuta radical da noite”, conforme explica Tarcísio. Ele argumenta que a escuridão nos oferece um espaço para a fabulação, permitindo que a imaginação se expanda em um contexto onde a transparência não é uma exigência.

“Para nós, artistas e pesquisadores negros, olhar o mundo pela densidade da noite é uma forma de resistência e imaginação diante das representações sociais”, acrescenta. A artista Ema Ribeiro, cuja obra é marcada pela penumbra, revela que o contato com sua espiritualidade enriqueceu seu processo criativo, transformando seu trabalho fotográfico em uma prática ritualística.

“Minha câmera se torna uma extensão de mim, capturando a energia que me atravessa”, conta ela, enfatizando que a exposição representa uma reinvenção pessoal, permitindo-lhe abrir novos caminhos. “É uma prática revolucionária que desafia as normativas convencionais da arte”, conclui.

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O Instituto Práticas Desobedientes, fundado em 2019 por Tarcísio Almeida e Jamile Cazumbá, iniciou como um grupo de pesquisa na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Com o tempo, o instituto expandiu seu alcance e, em 2024, se institucionalizou, comprometendo-se a formar novos artistas através de pedagogias libertárias.

“Desde a nossa origem, sonhamos com outras possibilidades de existência e criação artística”, explica Tarcísio. Jamile reforça que a exposição é a realização de um sonho coletivo gestado desde 2020, simbolizando a ampliação do nosso espaço criativo onde o desejo e a imaginação possam realmente prosperar.

Atualmente, o Instituto já apoiou mais de 30 artistas por meio de programas que promovem a permanência e o fortalecimento dos talentos locais, oferecendo acesso a experiências formativas em arte contemporânea. “Bonita é a noite com sua fundura” é a materialização de um desejo que cresce a partir da coletividade, estabelecendo um diálogo entre artistas emergentes e o mercado de arte.

Assim, a noite se transforma de uma simples escuridão em um espaço rico em possibilidades criativas, um coletivo onde cada artista imprime sua singularidade, formando um novo verbete de resistência.

Bonita é a noite com sua fundura / 27 de setembro a 22 de novembro / RV Cultura e Arte, Rio Vermelho / Segunda a sexta das 10h às 18h e sábado das 10h às 14h / Gratuito

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