
Imaginemos a escola como um microcosmo da sociedade, onde se entrelaçam saberes, identidades e ideologias. Clarissa Brito, psicopedagoga e especialista em educação antirracista, analisa os desafios que a Lei 10.639 – que torna obrigatório o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas escolas – enfrenta após duas décadas de sancionamento. Embora a norma tenha sido aprovada em 2003, sua implementação é obstáculos por resquícios de racismo que ainda permeiam o ambiente escolar.
“A lei é maior de idade, mas ainda necessita de apoio para avançar”, ressalta Clarissa. Ao longo de sua trajetória, ela se deparou com resistências como o crescimento das religiões neopentecostais e o enfoque mercadológico da educação, que dificultam mudanças estruturais nas instituições. A presença de educadores negros e uma revisão curricular são fundamentais para a transformação educativa.
Para Clarissa, o racismo ainda é um dos principais entraves para o cumprimento da lei. “A disposição para a educação antirracista surge como uma resposta necessária às resistências e disputas que marcam o cotidiano escolar.” Ao refletir sobre o papel das escolas, ela reforça: “É crucial que as instituições compreendam a importância de um currículo que respeite a diversidade cultural e histórica.”
“Historicamente, a escola é um espaço marcado por ideologias. Romper com essa estrutura eurocêntrica é desafiador, um verdadeiro rompimento curricular. As instituições precisam investir na formação de seus educadores, e não há mais justificativas para a inação a não ser a manutenção do racismo que ainda se faz presente.”
A lógica capitalista, que transforma alunos em clientes, também gera tensões. Clarissa enfatiza a distinção entre a escolha de uma escola e a de um comércio: “Escolher uma escola é optar por um projeto político-pedagógico.” Nesse marco, ela defende que as famílias busquem instituições que compartilhem seus valores e façam parte de uma comunidade educativa mais ampla.
A presença de representatividade nos currículos e a formação ética devem ser prioridades. Ao questionar se as escolas promovem uma educação inclusiva e decolonial, Clarissa provoca uma conscientização sobre as narrativas que ainda dominam as salas de aula. A literatura e as referências devem refletir a diversidade da população, principalmente em lugares como Salvador, que abriga a maior população negra do Brasil.
“A escola não deve apenas transmitir informações. Ela precisa ser um espaço para refletir sobre o conhecimento e o impacto que ele pode ter no mundo.”
Como a escola pode, então, ressignificar seu papel? A resposta reside em se adaptar às mudanças sociais e tecnológicas. Hoje, as crianças e jovens têm acesso a um universo de conhecimento fora dos muros escolares e, assim, o papel da educação é guiar essa busca, ajudando as novas gerações a construírem sentido a partir de uma avalanche de informações.
Estamos vivendo um momento em que a relação entre escola e família se estreita cada vez mais. Nesse novo cenário, é fundamental que as instituições estejam abertas ao diálogo e se posicionem como comunidades integradas, onde a formação do aluno é uma tarefa compartilhada. Essa união contribuirá para um ambiente mais saudável e inclusivo.
E você, o que pensa sobre a relação entre ideologia e educação? Quais são os desafios que você vê nas escolas hoje? Compartilhe sua opinião nos comentários!