Malandro não carrega embrulho nem entra em fila, dizia Bezerra da Silva, um verdadeiro filósofo das ruas cariocas. Ao longo dos anos, absorvi essa lição imperativa: a vida, com suas injustiças e burocracias, exige um olhar perspicaz. No Brasil, um país repleto de regras, a realidade é clara: há quem detenha o poder e aqueles, muitos, que o servem. As desigualdades estão espalhadas como estrelas no céu, algumas brilhando intensamente no latifúndio, enquanto a maior parte luta para sobreviver nas sombras da favela.
Como Cazuza cantou, precisamos pedir a Deus um pouco de malandragem. E quem está imerso na educação e na cultura, sabe que essa sabedoria é frequentemente ridicularizada. Nossa nação desdenha da massa que não teve acesso ao conhecimento, mas também não valoriza quem estuda e busca evolução. Se até crianças precisam aprender a se desviar dos obstáculos nas ruas, que papel desempenham os adultos nesse jogo?
Antigamente, a figura masculina, geralmente pai ou avô, era vista como a referência em esperteza. Contudo, muitas vezes são as mulheres, as mães, que enxergam além e nos guiam pelos labirintos da vida. Voltando ao ensinamento de Bezerra, existem momentos em que a paciência é necessária. Mas não aceito o suplício de esperar por uma mesa em um restaurante chique ou por qualquer outro capricho. Faz parte da malandragem encontrar rotas alternativas e contornar as armadilhas impostas pela sociedade.
Na Bahia, temos expressões que falam disso de forma bem humorada: “Fique lá com seu mandu”, ou “Quem pariu Mateus, que balance”. O que queremos, no fundo, é viver com autonomia, sem os embaraços que outros tentam nos impor. O excesso de gentileza que acaba se transformando em abuso é esse dito “embrulho” que tanto nos pesa. Cada um deve carregar suas próprias responsabilidades e não deixar que entrem em nosso caminho.
O malandro que se faz presente em todas as esferas sociais, seja na política, nos negócios, ou mesmo nas relações pessoais, nos ensina a perceber as armadilhas e, ao mesmo tempo, a lutar por um espaço onde a justiça prevaleça. Ao erguer a voz contra a injustiça, que possamos lembrar das lições de quem nos ensinou a driblar as dificuldades e a celebrar as pequenas conquistas.
E você, já passou pela experiência de um “embrulho” que tentou te segurar? Compartilhe suas histórias e reflexões nos comentários!