18 julho, 2025
sexta-feira, 18 julho, 2025

Ego e as tradições: que cultura estamos preservando?

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Débora Magda Peres Moreira é Juíza de Direito em Catu-BA

Vivemos em uma era fascinante, onde o dilema da preservação das tradições nos provoca reflexão profunda. Em muitos casos, práticas culturais são mantidas com um fervor quase religioso, mesmo que tragam desconforto e sofrimento. Por outro lado, manifestações autênticas que promovem o bem-estar coletivo se esvanecem sem resistência. O que isso revela sobre nós, enquanto sociedade?

A forma seletiva com que valorizamos nossas tradições expõe nossas reais prioridades. Os estilos que oferecem prazer imediato ou retorno financeiro tendem a ser resguardados, mesmo quando prejudiciais ao próximo, aos animais ou ao meio ambiente. Por outro lado, tradições que promovem partilha, paciência e convívio são negligenciadas, pois não se encaixam na lógica do consumo rápido e individualista que domina nosso tempo.

Um exemplo gritante é o uso de fogos de artifício. Conhecidos por seus efeitos adversos – como crises em crianças autistas, sofrimento em idosos e pânico em animais – essa prática ainda é defendida por muitos sob o manto da “cultura”. Isso levanta uma questão indelicada: para preservar a cultura de quem e a que custo?

Tradicionalmente, festas como as juninas simbolizavam a celebração da colheita e a união comunitária. Hoje, essas celebrações foram descaracterizadas. Os trajes autênticos foram substituídos por fantasias comerciais, a música de raízes deu lugar a ritmos desconexos, e o ambiente caloroso se tornou um espaço de barulho e consumo. O que antes promovia partilha agora se transforma em isolamento.

O mais alarmante é o silêncio coletivo frente a essas perdas. Falta-nos campanhas para resgatar trajes típicos, receitas caseiras e rituais que fortalecem o convívio. Porém, ao se sugerir limites para práticas comprovadamente nocivas, surgem protestos em nome da “liberdade” e da “tradição”. Essa contradição requer debate.

Tradições são fundamentais, pois moldam identidade, fortalecem laços e transmitem valores. Contudo, é necessário avaliá-las constantemente à luz dos nossos tempos e do bem-estar coletivo. O que promove acolhimento e empatia merece preservação; o que causa dor e exclusão precisa ser reavaliado.

É tempo de refletir sobre a sociedade que desejamos construir. Uma que prioriza o ego individual ou aquela que valoriza o bem-estar coletivo? O verdadeiro legado cultural não é medido pelo barulho que faz, mas pela profundidade com que ressoa na alma da comunidade.

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