
“Eu só sei que nasci de novo. Estar viva aqui foi um verdadeiro livramento, e até hoje só sei agradecer a Deus e à minha mãe.” Assim, Raíssa, 19 anos, única sobrevivente do brutal triplo homicídio em Dias D’Ávila, relata seu drama. O crime, que chocou a cidade, envolveu um policial militar e resultou na morte de duas mulheres e um homem em março deste ano.
Em uma conversa exclusiva com o Portal A TARDE, Raíssa compartilhou detalhes da fatídica noite. Embora tenha preferido manter sua identidade resguardada por questões de segurança, sua voz ressoa como um chamado à verdade. Ela detalhou como escapou da morte ao sair da casa pouco antes do massacre. E, desafiando rumores, rejeitou a ideia de que a festa tinha contornos de “orgia” ou “surubão”, embora investigações policiais tenham sugerido o contrário.
“Estávamos em um bar, e, com um convite de Jailma, fomos para a casa dela encontrar Henrique, que estava sendo chamado por ela. Assim que cheguei, alguns amigos já estavam lá, entre eles o policial Alisson”, recorda Raíssa. Outras circunstâncias logo transformariam uma noite de diversão em pesadelo.
A tensão começou com uma brincadeira de mau gosto de Henrique que provocou Alisson. “O clima mudou. A provocação que começou de forma leve virava uma discussão. ‘Fod*-se que você é policial… se fosse mesmo, já tinha me prendido’, disse Henrique. A partir daí, a situação escalou”, explica Raíssa, que decidiu sair do local logo antes da tragédia ocorrer.
“Com certeza, se eu não tivesse saído, teria morrido também. O problema do Alisson era com Henrique, mas ele matou todos para não deixar testemunhas. Eu liderei um verdadeiro livramento”, declarou Raíssa.
A jovem, que também negou ser garota de programa, partiu da casa para pegar uma roupa emprestada e acabou encontrando um amigo. “Fui um bico, buscando sustentação. Jailma e Giovanna também não estavam na profissão. Eram mulheres com planos, com vidas. Não tínhamos nada a ver com o que aconteceu naquela noite”, enfatiza.
Desde o crime, tudo mudou. Raíssa, ainda traumatizada, deixou a Bahia por segurança e carrega consigo a dor da perda das amigas e a necessidade de justiça. “Eu soube da tragédia pela ligação de uma amiga. O choque ainda me perssegue. Jailma era parte da minha família. Eu não consigo aceitar”, relembra.
“Acho que se eu tivesse ficado, ele também me mataria. Não me entreguei, mas graças a Deus consegui sair daquela situação. Hoje, eu só quero justiça”, conclui.
Em julho, o inquérito do caso foi finalizado, e as acusações foram encaminhadas ao Judiciário. O crime foi classificado como feminicídio, e os dois réus permanecem presos, podendo enfrentar até 100 anos de pena. No entanto, Raíssa continua ansiosa pela justiça e pela segurança de seu filho, que permanece na Bahia enquanto ela tenta reconstruir sua vida longe do local onde perdeu amigas e viveu um verdadeiro pesadelo.
O sangue e a dor da noite de março ainda ecoam na mente de muitos, e o desejo de justiça persiste. Compartilhe sua opinião e reflita sobre esse caso impactante nos comentários.