16 agosto, 2025
sábado, 16 agosto, 2025

‘Vivi um luto invisível; ninguém falava o nome da minha filha’

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Ligia Aquino, fundadora do Instituto do Luto Parental

No coração da dor, surge a força. Lígia Aquino, fundadora do Instituto do Luto Parental, transformou a perda de sua filha Laura em um poderoso impulso por mudança. Após a morte de Laura no final da gravidez, Lígia enfrentou um sistema de saúde que tratava a dor da perda como um tabu, caracterizado pela falta de acolhimento e ausência de protocolos adequados.

Motivada pela necessidade de dar voz a essas experiências, Lígia não só criou a Casa Mães para Sempre, mas também se tornou uma figura ativa na elaboração da Lei de Humanização do Luto Materno e Parental, sancionada recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ela, esta legislação é apenas o começo. “É um primeiro passo, mas precisamos de um compromisso real para que as práticas se concretizem no dia a dia do SUS”, afirma.

A essência de sua missão é simples, mas poderosa: fazer com que as famílias enlutadas sejam vistas e ouvidas. “Vivi um luto invisível; ninguém falava o nome da minha filha”, recorda. Em sua luta, ela encontrou coragem para compartilhar aquele que é um luto silenciado por muitos. “Falar o nome do bebê é um impacto profundo, é reconhecer que uma vida existiu e que essa dor é legítima”, diz.

A partir de sua trágica vivência, Lígia percebeu que as instituições estavam despreparadas para lidar com esses momentos de fragilidade e dor. “Nosso primeiro acolhimento foi traumático. Havia uma necessidade urgente de protocolos que orientassem as equipes de saúde sobre como lidar com famílias que estão enfrentando luto.” Com isso, iniciou um trabalho colaborativo com outros coletivos para a criação de diretrizes que humanizam o atendimento.

Atualmente, o Instituto do Luto Parental trabalha em cinco frentes fundamentais: acolhimento emocional, formação de profissionais de saúde, promoção de políticas públicas, produção de materiais informativos e suporte a famílias enlutadas. “Esses pilares garantem que, cada vez que uma família enfrenta uma perda, ela não esteja sozinha nesse caminho”, explica.

Ciente das barreiras que ainda existem, Lígia destaca a importância do fortalecimento das equipes de profissionais de saúde por meio de uma formação mais extensa que aborde o luto e suas nuances. “É essencial que tudo isso seja incorporado à formação médica, pois a dor da perda é uma realidade que muitos enfrentarão”, reforça.

Entre os desafios enfrentados, o luto masculino também se destaca. “Os homens costumam sofrer em silêncio, com o peso da expectativa de serem fortes. Nossa intenção é criar espaços para que eles também possam compartilhar suas dores.” A mudança de nome da Casa Mães para Sempre para Instituto do Luto Parental busca simbolizar essa inclusão e acolhimento.”

A importância do reconhecimento legal para famílias enlutadas é outro ponto crítico. “As mulheres não sabem que têm direitos garantidos a partir da vigésima semana. Muitas vezes, voltam ao trabalho sem o devido acompanhamento. O nosso papel é garantir que essa informação chegue, ajudando a assegurar que esses direitos sejam respeitados”, explica Lígia.

A jornada de Lígia não é apenas uma luta pessoal, mas um movimento coletivo. “A dor de perder um filho é universal, mas o acolhimento precisa ser real e palpável. Precisamos aprender a falar sobre esses bebês, que deixaram marcas eternas em nossas vidas.”

Esse chamado à ação é um convite à sociedade: vamos falar sobre nossas dores, vamos juntos construir um espaço de respeito e compreensão. Deixe seu comentário e compartilhe sua experiência. Sua voz é essencial nessa conversa!

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