No último domingo, dia 7 de setembro, Brasília testemunhou um momento emblemático de celebração e resistência. Mais de uma centena de praticantes e admiradores das religiões de matriz africana se uniram na capital para clamar pelo respeito à diversidade religiosa e pela eliminação da intolerância. A escolha da data não foi aleatória; o número sete, reverenciado por seu significado espiritual, foi associado ao orixá Exu, simbolizando a conexão entre o mundo espiritual e o material.
Intitulado “Caminhos para Exu”, o evento foi inspirado na Marcha para Exu, que, apenas um mês antes, arrastou milhares de pessoas na Avenida Paulista em São Paulo. Kika Ribeiro, uma das idealizadoras desse encontro, enfatizou: “Nosso principal objetivo é mostrar que existimos; que estamos vivos”. Ao longo da Avenida W3 Sul, a manifestação promoveu um espaço de celebração, onde a diversidade de fé e cultura se tornou a protagonista.
Kika complementou: “Estamos dizendo não à intolerância religiosa, para que todos possam viver conforme suas crenças, respeitando-se mutuamente”. Além disso, ela já contempla a possibilidade de outra edição do Caminhos para Exu em dezembro, dependendo do feedback do público. O evento não apenas atraiu devotos de várias tradições, mas também simpatizantes e curiosos, encantados pelos cânticos e pelos ritmos vibrantes de atabaques e agogôs.
Marina Mara, coordenadora cultural da Biblioteca Demonstrativa onde o evento ocorreu, ressaltou a importância do espaço em acolher as múltiplas expressões culturais. “Isso é Exu! É comunicação, comunhão, prosperidade”, disse, destacando a essência do orixá que serve como mensageiro entre os humanos e o divino. Para reforçar a celebração, a biblioteca decidiu estender a exposição “Cartas à Tereza”, em homenagem à líder quilombola Tereza de Benguela, reconhecendo a importância da resistência negra no Brasil.
Francys de Óya, uma yalórisá que deixou seu terreiro em Samambaia para se juntar à festa, compartilhou sua motivação: “Viemos mostrar que não somos do mal; somos alegria, saúde e prosperidade”. Sua presença e a de muitos outros evidenciam a força e a união da comunidade afro-brasileira, frequentemente vítimas de preconceito e violência.
Dados do Censo de 2022 apontam que as religiões de matriz africana representam 1% da população brasileira, um crescimento significativo em comparação a 2010. Essa evolução, apoiada por políticas de combate à intolerância religiosa, reflete a crescente aceitação, embora ainda haja muito a ser feito. “Este Caminhos para Exu serve para desmistificar nosso orixá. Exu é bom, é lindo, é amor. Basta olhar para esta celebração”, concluiu Francys.
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