Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu no Rio de Janeiro, mas sua alma sempre esteve enraizada na Bahia. Desde os seis meses de idade, quando se mudou para Salvador, a cidade tornou-se sua segunda casa, onde a cultura e a musicalidade da região moldaram sua essência. Filha do icônico Gilberto Gil e da artista Sandra Gadelha, Preta cresceu cercada por influências poderosas da música, como sua madrinha Gal Costa e seu tio Caetano Veloso.
Sua trajetória começou com desafios. Em 2020, em uma emocionante entrevista, Preta relembrou o dia em que enfrentou o preconceito linguístico ao voltar ao Rio, após aprender o alfabeto em Salvador. A risada da turma e as palavras da professora foram um convite ao seu primeiro ato de bravura: subir em um banco e repetir o alfabeto da forma como aprendeu, afirmando sua identidade sem medo.
As lembranças de Salvador nunca deixaram de acompanhá-la. Durante sua juventude, Preta voltava para a cidade durante as férias e, aos 16 anos, conquistou seu primeiro emprego no Carnaval, em um camarote, onde começou a trilhar seu caminho artístico. Essa conexão se fortaleceu ainda mais na vida adulta, quando se tornou uma voz ativa na luta pelos direitos da comunidade LGBT+, desfilando como madrinha da Parada Gay em 2006.
A Bahia a viu florescer. Após o sucesso com “Prêt-à-Porter” em 2003, Preta levou sua energia contagiante ao Carnaval de Salvador, comandando trios e celebrando suas raízes. A amizade com artistas baianos como Ivete Sangalo e o ex-namorado Márcio Victor fez com que seus vínculos com o estado se tornassem ainda mais profundos. A música sempre foi uma ponte que a uniu à terra natal.
Mesmo diante das adversidades, como a luta contra o câncer, Preta nunca se afastou de Salvador. Em momentos de celebração e resistência, como na missa de ação de graças por sua remissão, e nos Carnavais que participou, a cidade se manteve como um suporte emocional e espiritual. Em um de seus últimos atos, mergulhou nas águas salgadas que tanto amava, simbolizando renovação após uma delicada cirurgia.
A despedida veio de forma abrupta, quatro meses após uma mensagem de otimismo para Salvador, onde afirmava seguir sua luta com energia renovada. Preta Gil partiu, mas deixou um legado que transcende a música: sua história de amor pela Bahia e pela arte vive em cada canção, em cada revelação sobre a identidade e a aceitação. Ela deixa para trás um filho, Francisco, e uma neta, Sol de Maria, que continuarão a honrar sua memória.
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