BRASIL
Levantamento revela que apenas 3,3% dos povos que se declaram indígenas falam sua língua originária no estado

25/10/2025 – 7:35 h

Cena do filme ‘Ama mba’é Taba Ama’, dirigido por Nádia Akawã Tupinambá –
Fechar
Um panorama preocupante emerge do Censo de 2022, divulgado pelo IBGE: apenas 3,3% dos indígenas baianos, ou seja, 7.489 pessoas, falam suas línguas originárias em casa. O cacique Sebastião Kiriri, representante do povo Kiriri, destaca que a situação é alarmante. “Contamos nos dedos quem ainda se comunica em kipeá na nossa comunidade”, lamenta.
Essa taxa, que já era baixa, apresenta uma queda em relação a 2010, quando 4% dos indígenas utilizavam suas línguas em casa, posicionando a Bahia como o quinto estado com a menor adesão. A história das línguas originárias no Brasil é marcada por séculos de repressão, um legado da colonização que continua a afetar o presente.
“Meu pai costumava nos contar que nossos avós foram proibidos de falar sua língua. O resultado dessa repressão é a perda gradual de nossa identidade linguística”, explica Kiriri, ressaltando a importância de manter viva a cultura e a língua do seu povo.
Apesar do crescimento do número total de falantes, que triplicou, passando de 2.437 para 7.498, a proporção ainda é muito inferior à média nacional, que é de 29,2%. Este contraste revela um crescimento percentual, mas uma queda na participação dentro do total de indígenas, que reduziu de 4,0% para 3,3%.
As escolas voltadas para as comunidades indígenas surgem como uma esperança para a revitalização das línguas. O cacique Kiriri destaca a importância das matérias de língua indígena introduzidas na grade escolar: “Essas aulas têm gerado um efeito positivo. Lutamos para manter nossa língua viva, pois é fundamental para nossa identidade.”
A supervisora de disseminação do IBGE, Mariana Viveiros, ressalta que a comunicação em línguas originárias é mais robusta em áreas indígenas do que em contextos urbanos. “Observa-se que a proporção de falantes diminui significativamente em áreas urbanas”, afirma.
Outro dado alarmante é que apenas 4 em cada 10 indígenas (38,5%) no estado se declaram etnicamente como tal, a quinta menor taxa entre os estados do Brasil. Entre 2010 e 2022, a população indígena cresceu de 32.273 para 88.417, mas a proporção de quem se identifica como indígena caiu de 52,9% para 38,5%.
Embora 99,4% dos indígenas que vivem em terras oficialmente reconhecidas declarem sua etnia, a maioria dos indígenas na Bahia (92,5%) reside fora dessas terras, especialmente em áreas urbanas. A defensora pública Aléssia Tuxá explica que muitos territórios ainda aguardam demarcação, impedindo o acesso a políticas públicas essenciais e forçando os indígenas a buscar melhores condições fora de suas comunidades.
“A morosidade na formalização de terras indígenas na Bahia é inaceitável. Muitas comunidades permanecem nos seus territoriais ancestrais, mas são consideradas fora de terras indígenas”, declara Aléssia. A Bahia abriga a segunda maior população indígena do Brasil.
Os dados do Censo também revelam um aumento impressionante na diversidade étnica: o número de etnias na Bahia subiu de 165 em 2010 para 233 em 2022, sendo este o segundo maior crescimento do Brasil. Entre elas, destacam-se as populações Pataxó Hã-Hã-Hãe, Kiriri, Tumbalalá, Pankararé, Tuxá e Kaimbé.
Essas estatísticas nos convidam a refletir sobre a importância da preservação cultural e a necessidade de políticas eficazes para proteger e promover as línguas e identidades indígenas. O que você pensa sobre esse cenário? Compartilhe sua opinião nos comentários!