Em 2003, a Assembleia Geral da ONU foi palco de um evento memorável: um concerto inesquecível de Gilberto Gil. O famoso auditório que une as maiores autoridades do mundo em Nova York transformou-se numa vitrine da cultura brasileira, mostrando não apenas música, mas um forte simbolismo de identidade e criatividade nacional.
O espetáculo, denominado Show da Paz, teve a participação especial do então secretário-geral Kofi Annan, que se juntou a Gil na percussão. O show homenageou as vítimas de um atentado em Bagdá, incluindo o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Mais do que um tributo, essa apresentação representou uma lição prática de soft power, a capacidade de influenciar e conquistar admiradores através da cultura.
Para a economista Cristina Helena Pinto de Mello, este evento foi uma afirmação política, onde a música se mostrou como um ativo estratégico. “Ao ocupar um espaço tão significativo, o Brasil comunicou sua capacidade de falar a uma audiência global em uma linguagem universal”, explica Mello. O resultado foi o fortalecimento da “marca Brasil”, projetando uma imagem de um país plural, moderno e relevante no cenário mundial.
Gil, já uma figura respeitada internacionalmente, trouxe consigo não apenas sua arte, mas a vontade de projetar um Brasil comprometido com a diversidade cultural e o diálogo entre modernidade e tradição. Sua ascensão ao ministério da Cultura, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, fortaleceu essa visão. “O show na ONU simbolizava a autoafirmação do país não apenas na economia, mas também na criatividade e diversidade”, destaca o sociólogo Rogério Baptistini.
A força da apresentação de Gil transcendeu o simples ato musical, gerando um eco de otimismo que reverberou globalmente. O músico Alberto Ikeda ressalta que Gil não apenas trouxe arte ao palco, mas também transmitiu uma ideia de poder e prestígio, posicionando o Brasil em um espaço de reconhecimento internacional.
Em 2011, a história se repetiu com Dilma Rousseff, que se tornou a primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da ONU. Durante seu discurso, abordou questões prementes como a crise econômica e as mudanças climáticas, destacando, especialmente, a luta pelo protagonismo feminino. Ao mencionar o termo “mulher” 16 vezes, Rousseff não apenas fez história, mas também posicionou o Brasil na vanguarda da representatividade política e da igualdade de gênero.
Esses momentos têm um grande significado para o Brasil no contexto internacional, onde, desde 1957, dois murais do renomado Cândido Portinari, intitulado Guerra e Paz, marcam a presença cultural do país na sede da ONU. A historiadora Bruna Gomes dos Reis observa que a dualidade destes painéis reflete os desafios e as soluções complexas que o mundo enfrenta.
Por trás de cada apresentação e cada mural está a mensagem de que a arte e a cultura não são apenas formas de expressão, mas sim poderosas ferramentas de transformação social e diplomática. Gilberto Gil e Dilma Rousseff, cada um à sua maneira, mostram como o Brasil pode se afirmar no cenário global com uma voz única e ressoante. E você, o que pensa sobre o papel da cultura na diplomacia? Compartilhe suas reflexões nos comentários!