
No coração do Rio de Janeiro, uma batalha silenciosa e brutal se desenrola. Enquanto facções criminosas dominam as manchetes, um poder mais insidioso cresce nas sombras: as milícias. Esses grupos paramilitares não apenas lutam por território, mas se tornaram mestres na exploração de recursos e na manipulação do sistema político local.
Para compreender essa complexa rede de poder, conversamos com o sociólogo José Cláudio Sousa Alves, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Com mais de 33 anos de pesquisa na área, ele nos oferece uma visão profunda sobre a evolução das milícias, que têm suas raízes fincadas na história da repressão no Brasil.
Os alicerces dessa prática surgiram na era da ditadura, onde grupos de extermínio, financiados por empresários, atuavam como uma força de “limpeza social”, aliciados pelo estado para erradicar a oposição. A Baixada Fluminense foi um verdadeiro laboratório para esses grupos, permitindo que a cultura da violência se enraizasse de forma perversa.
Na década de 1980, a “ terceirização” dessa atuação começou, permitindo que civis formassem suas próprias milícias. Nos anos 1990, vimos os primeiros sinais de um entrelaçamento entre a política e a criminalidade, quando membros das milícias começaram a se eleger para cargos públicos. Essa sinergia transformou os bairros mais afetados, como Rio das Pedras e partes de Duque de Caxias, num centro de controle e comércio ilícito.
Alves destaca cinco elementos cruciais que sustentam a continuidade das milícias na sociedade: a presença de servidores públicos dentro dos grupos, a expertise em causar danos, o controle territorial, o financiamento empresarial e a política, que se mescla com a criminalidade. Essa estrutura cria um ciclo vicioso, onde a confiança da população é ganha por essas forças que se intitulam como “protetores”.
Com o tempo, a dinâmica do crime militarizado se ampliou. As milícias não se limitam a extorsões; agora operam em um espectro que inclui o transporte clandestino e a venda de combustíveis adulterados. A década de 2000 marcou a solidificação desses grupos como uma entidade poderosa, em evolução constante devido às alianças que formam e aos confrontos que enfrentam com outras facções.
Alves observa que, surpreendentemente, a necessidade de coação foi substituída pela construção de uma relação de confiança com a população. As milícias, que outrora controlavam os votos com anotações, agora conquistam a adesão por meio de um status benigno. Em uma sociedade onde as alternativas são limitadas, muitos veem nelas uma solução viável para suas necessidades.
Esse é o novo rosto do poder no Rio de Janeiro: uma milícia que não apenas assegura o controle de territórios, mas se insere nos laços sociais, tornando-se uma mediadora nas relações cotidianas. A confiança se solidificou ao longo dos anos, transformando essas forças em algo que a população não consegue mais dispensar. O que isso significa para o futuro da região e a luta contra a criminalidade?
Gostou de entender melhor essa realidade tão complexa? Compartilhe sua opinião nos comentários! Vamos juntos debater sobre o futuro do Rio de Janeiro e as escolhas que a sociedade precisa fazer para mudar essa história.