29 setembro, 2025
segunda-feira, 29 setembro, 2025

Corregedoria investiga doação de CT de artes marciais ao Deic

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A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo abriu uma investigação sobre a doação de equipamentos para o centro de treinamento (CT) de artes marciais construído na sede do maior braço operacional da instituição: o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).

Conforme revelado pelo Metrópoles, o empresário Gabriel Cepeda, acusado de lavar dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC), foi apontado como o responsável pela doação. Dono da rede de postos de combustíveis Boxter, ele foi alvo da Ooperação Carbono Oculto, deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), em 28 de agosto.

Na última sexta-feira (26/9), após ter mantido a identidade do doador sob sigilo, a Polícia Civil publicou no Diário Oficial um termo de doação dizendo que a empresa que bancou o CT foi a C2 Gestão de Patrimônio, registrada no nome de Felipe Francelino, um pintor de 34 anos que vive em uma casa de 19 m² em Ubatuba, no litoral paulista, e é alvo de uma ordem de despejo por ocupar o terreno de forma irregular. No processo, Felipe alegou não ter condições de arcar com os custos judiciais.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que o procedimento instaurado pela Corregedoria vai analisar “toda a documentação disponível, a fim de verificar o integral cumprimento da Lei Orgânica da Polícia Civil e a legislação vigente”.

A publicação no Diário Oficial do nome da empresa que supostamente teria feito a doação foi feita dois dias após a SSP se recusar a fornecer a informação por meio de um pedido de via Lei de Acesso à Informação (LAI) feito pelo Metrópoles. Na ocasião, a pasta disse que essa seria uma “informação preliminar”, porque o procedimento relacionado à construção do centro de treinamento ainda estaria em andamento.

Na semana passada, a própria pasta disse que a academia está pronta para a inauguração e já foi utilizada de forma experimental. O espaço chegou a ser anunciado nas redes sociais por um influenciador que teria intermediado a doação. A pasta nega que Gabriel Cepeda esteja envolvido no custeio da obra.

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Matheus Serafim anuncia que CT do Deic está pronto

Reprodução

“Amigo Cepeda”

A participação de Gabriel Cepeda na construção do centro de treinamento do Deic foi anunciada nas redes sociais por um amigo dele: o influenciador e ex-lutador de MMA Matheus Serafim. Em agosto, dias antes da Operação Carbono Oculto, da qual Cepeda foi alvo, a dupla se reuniu com o diretor do Deic, Ronaldo Sayeg, na sede do departamento.

Na ocasião, Serafim publicou uma foto em seu Instagram dizendo que o empresário “não mediu esforço” para construir a academia.

“Agradecer meu grande amigo Gabriel Cepeda que ao meu pedido não mediu esforço para construir um dos maiores e mais bem equipados centro (sic) de treinamento da Polícia Civil – Deic. Obrigado irmão pela parceria de sempre, logo logo inauguração”, disse o ex-lutador.

Após a operação, a publicação foi apagada, mas seu link continua visível no Google, o que permitiu ao Metrópoles acessar o texto original por meio do código fonte da página.

Questionado pela reportagem, Matheus Serafim negou que Cepeda tenha feito a doação para o CT do Deic. Ele disse que mentiu na postagem, com o objetivo de “dar uma moral” ao amigo, a quem pretendia agradar.

“Eu quis agradar ele. Essa é a verdade. Ele seria um grande parceiro meu, mesmo em relação às minhas pretensões políticas, nos projetos sociais que eu tenho. As coisas dependem muito de empresário”, afirmou o ex-lutador por telefone.

C2 Gestão de Patrimônio

A C2 Gestão de Patrimônio Ltda está registrada na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp) em nome Felipe Francelino da Silva Alves, um homem de 34 anos que atua como pintor e está sendo processado por construir sua casa, de 19 m², em um terreno que pertence a um casal de Jacareí, no bairro da Maranduba, no Sertão de Ubatuba. Felipe nega e diz que a casa não está localizada na área reivindicada.

Em contraponto ao patrimônio milionário da empresa registrada em seu nome, de R$ 1,6 milhão Felipe solicitou no processo a declaração de hipossuficiência financeira e concessão de Justiça gratuita, alegando que não tinha como pagar pelas custas processuais. Ele disse que nunca declarou imposto de renda, porque teria renda mensal média abaixo do valor mínimo estipulado pela Receita Federal, de R$ 2.824.

“Mantive contato com ele”

Questionado pela reportagem, Ronaldo Sayeg disse que chegou a conversar com Felipe Francelino e com uma outra pessoa que representa a empresa. O diretor do Deic, no entanto, se recusou a dar detalhes sobre como teria chegado até o suposto empresário.

“Eu mantive contato com ele, sim”, disse Sayeg. “Essa é a empresa doadora. Até onde eu sei o dono é o cara que tá declarado aí [Felipe Francelino]”.

“Isso é coisa pessoal. Eu não vou falar como eu mantive contato com a empresa. Eu não queria nem expor a empresa. Mas, como tem uma parte pública nisso aí, aí eu nós revelamos o CNPJ. […] Eu não preciso responder essas coisas, aquilo que eu tiver que falar vou falar na Corregedoria”, acrescentou.

O delegado disse que a empresa teria sido indicada por amigos em comum. Ele afirmou que, para ele, isso seria suficiente. “Eu não fui atrás da empresa. Eles se dispuseram, fizeram toda a documentação. Foi de forma por etapas, ‘parcelada’, que culminou com a convalidação do parecer e na publicação no Diário Oficial”.

Boxter e PCC

A ligação entre a rede Boxter de postos de combustível e o PCC foi apontada pela primeira vez na Operação Rei do Crime, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em 2020. Na ocasião, foram presos o pai de Gabriel Cepeda, Natalício Gonçalves Filho, e o irmão dele, Renan Cepeda.

Na representação que deu origem à operação Carbono Oculto, em 28 de agosto deste ano, os promotores do Gaeco de São Paulo disseram que Renan Cepeda é “uma pessoa chave na organização criminosa”, mantendo sua influência na rede Boxter por meio de seu irmão.

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Viatura estacionada em frente à sede do Deic

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Viatura estacionada em frente à sede do Deic

Foto: Ciete Silvério/Governo do Estado de SP

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Viatura estacionada em frente à sede do Deic

Foto: Ciete Silvério/Governo do Estado de SP

Gabriel Cepeda teria transferido a titularidade de pelo menos 24 postos de combustíveis para um laranja do grupo, sem declarar as vendas à Receita Federal. O laranja em questão, Luiz Felipe do Valle, teria 61 postos de combustível registrados em seu nome.

Gabriel e Natalício Cepeda foram alvos de um mandado de busca e apreensão, em um apartamento na Vila Maria, na zona norte da capital. Mais de 150 mandados foram cumpridos.

Na Carbono Oculto, os promotores avançaram sobre como o PCC sofisticou seus mecanismos para lavar o dinheiro do crime organizado. A investigação se debruçou sobre fintechs que oferecem “contas bolsão”, com proteção contra bloqueios judiciais, e também sobre uma rede de fundos de investimentos da Faria Lima constituídos em cadeia, como forma de blindar patrimônios e esconder a identidade do beneficiário final dos recursos.

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