17 julho, 2025
quinta-feira, 17 julho, 2025

Da enxada ao império do crime: Roceirinho funda a Katiara e lança um espectro de sombras nas periferias da Bahia

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Antes de se tornar um ícone do crime organizado, Adilson Souza Lima, conhecido como Roceirinho, era apenas um garoto do Recôncavo baiano. O apelido, que remete às suas origens simples, refletia uma vida marcada pelo trabalho duro na roça de Nazaré. O suor na enxada e a rotina silenciosa das lavouras foram sua formação inicial, longe de qualquer pista de que ele um dia fundaria uma das facções criminosas mais poderosas da região.

Aos 18 anos, Roceirinho entrou no mundo do crime, transportando drogas para um pequeno grupo local. Naquele tempo, o tráfico era desorganizado e carente de estratégia. Mesmo em um cenário tão rudimentar, seu espírito ambicioso o levou a tentar estabelecer seu próprio território, mas sua ousadia custou caro: foi expulso de Nazaré, sua terra natal.

Com a dor da rejeição em seu peito, ele se mudou para Salvador, onde encontrou não apenas novos parentes, mas também um universo violento e sedutor. Um traficante local viu em Roceirinho o aliado ideal para expandir o alcance do tráfico. Ele aceitou, e em pouco tempo, passou de simples mensageiro a um empresário do crime, financiando sua ascensão com os lucros do tráfico.

Retornou à sua cidade natal não como um pária, mas para tomar de volta o que lhe haviam negado. Armado com jovens que compartilhavam suas origens, Roceirinho transformou Nazaré em um quartel-general do tráfico. Sua estratégia de recrutamento e a mesada de R$ 150 para os “vapor” que transportavam drogas catalisaram seu crescimento. Bastou pouco tempo para que seu império se estendesse por cidades vizinhas, incluindo Santo Antônio de Jesus, Maragogipe e até áreas em Salvador.

Porém, o que ele ambicionava ia além do dinheiro: era a consolidação do poder. Em 2013, enquanto estava preso, Roceirinho consolidou sua facção, a Katiara, levando a criminalidade baiana a um novo patamar. Com um estatuto próprio que definia regras rigorosas, a Katiara se tornou um modelo de organização, onde seu símbolo, o pentagrama, passou a ser um sinal de lealdade e um selo de opressão.

A Polícia Civil, reconhecendo sua importância no crime organizado, começou a rastrear seus passos. Em 2013, com a Operação Tríade, apreendeu toneladas de drogas, mas Roceirinho continuou a exercer influência mesmo de dentro do sistema prisional, replicando os métodos do PCC e solidificando sua força. Contudo, novos inimigos surgiram, como o BDM, e a guerra pelo controle do território se intensificou, arrastando cidades inteiras para o caos.

Após 13 anos na prisão, o cenário parecia promissor para Roceirinho. Em 2025, ele foi transferido para o regime semiaberto. Mas essa liberdade foi efêmera. Em julho do mesmo ano, um novo mandado de prisão o colocou novamente atrás das grades, acusando-o de continuar a comandar a Katiara mesmo preso.

A defesa de Roceirinho alega que ele abandonou o crime e que sua imagem é utilizada por outros. No entanto, seu nome ressoa entre os mais procurados e seu legado, marcado por um sistema de violentas regras, se perpetua nas sombras. A ideia de Roceirinho não morreu com ele; suas raízes estão profundas nas comunidades que ele controlou.

Como a colheita de uma lavoura bem cultivada, Roceirinho deixou um legado: um modelo do crime que, ao contrário do que muitos esperavam, não se extinguiu facilmente. E é esta herança que as autoridades de segurança buscam erradicar, enfrentando uma planta daninha cujos tentáculos ainda se estendem pelas periferias da Bahia. Que reflexões essa história provoca em você? Deixe suas opiniões nos comentários.

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