12 outubro, 2025
domingo, 12 outubro, 2025

Dias d’Ávila, a cidade esquecida na RMS: crise na saúde e obras paradas

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ESTAGNADA

Serviços precários, infraestrutura deficiente e projetos que não saem do papel comprometem o desenvolvimento do município

Alan Rodrigues

No bairro Imbassaí, o rio nem de longe lembra os tempos em que atraía famílias de toda parte da Bahia

No bairro Imbassaí, o rio nem de longe lembra os tempos em que atraía famílias de toda parte da Bahia –

Emancipado há 40 anos, o município de Dias d’Ávila está localizado a cerca de 60 km de Salvador, mas parece um lugar esquecido em plena Região Metropolitana. O progresso que pode ser visto nas cidades vizinhas não se verifica naquela que outrora foi uma cidade procurada por turistas, que se banhavam nas águas do Rio Imbassaí.

Hoje, o Rio Imbassaí, castigado por décadas de lançamentos de esgoto não tratado, nem de longe lembra os tempos de excursões e piqueniques. Os visitantes se foram e os trabalhadores do Polo Petroquímico instalado na vizinha Camaçari, já não são tantos quanto nos seus tempos áureos.

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Prejudicada na divisão do complexo industrial, a cidade conta apenas com duas indústrias de cerâmica e a metalúrgica Caraíba Metais, em processo de falência. A ausência de grandes investimentos se reflete na capacidade de arrecadação do município e a população sofre com o desemprego e serviços precários.

Saúde em crise: falta de medicamentos e atendimento precário

A saúde em Dias d’Ávila enfrenta uma crise. Falta de medicamentos e demora na marcação de consultas e exames são uma constante. Um paciente que prefere não se identificar conta que, após duas ressonâncias magnéticas em fevereiro, foi diagnosticado com anemia falciforme.

“Desde então são só dores, até hoje não consegui marcar o ortopedista para retorno, acredito que quando conseguir mostrar os exames já estarei em um estágio mais avançado”, teme o paciente que já apresenta perda nos movimentos dos membros inferiores.

Dona Graça acompanha a saúde do sogro da filha e coleciona requisições de consultas e exames frequentemente adiados. Mesmo com a idade avançada e a dificuldade de locomoção, ela se queixa de que o idoso não tem atendimento prioritário.

Selma Bispo faz tratamento com reumatologista há 2 anos e 6 meses e também tem dificuldade tanto para atualizar as receitas quanto pegar o medicamento no posto de saúde. Não consigo pegar remédio nem no hospital”, desabafa a dona de casa.

Lixo acumulado, ruas intransitáveis e transporte em colapso

E os problemas não param por aí. Quem mora mais afastado do centro da cidade também tem que conviver com o lixo que se acumula por semanas à espera da coleta. “Passa quase um mês o lixo acumulado, atraindo insetos, ratos, os cachorros rasgam os sacos e espalham tudo na rua”, diz Mateus Alves, morador do bairro Jardim Alvorada.

Seu Aurélio Ferreira, de 75 anos, cansou de esperar pelo poder público e limpa ele mesmo o mato que cresce na rua onde reside. Ainda assim, o transtorno é inevitável quando chove. “Quando chove o negócio aqui pega, a água dá no meio da canela, não dá para passar”, reclama sobre as ruas intransitáveis.

A mobilidade é outro problema crônico em Dias d’Ávila. A Expresso Vitória, empresa que opera de forma emergencial o transporte no município, acumula queixas de má conservação de ônibus e desrespeito aos horários.

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Terminal rodoviário fechado e obra parada

Pior que isso, Dias d’Ávila, vizinha de Camaçari, Mata de São João e Simões Filho, cortada pela BA-093, é a única na RMS a não possuir um terminalrodoviário. O antigo foi fechado há anos. Um novo terminal começou a ser construído na entrada da cidade, mas as obras estão paradas há pelo menos cinco anos.

O que já foi uma rodoviária, atualmente mal serve de abrigo para os passageiros do transporte público

O que já foi uma rodoviária, atualmente mal serve de abrigo para os passageiros do transporte público | Foto: José Simões | Ag. A TARDE

“Quando as pessoas vêm de fora e perguntam onde é o terminal rodoviário eu tenho vergonha de dizer”, diz Luiz Augusto, antigo morador da cidade, que se queixa da falta de transporte público de qualidade. “Os ônibus não têm horário, andam quebrando direto, a população está pedindo socorro”.

Patrimônio histórico em ruínas

Perto da rodoviária desativada, a antiga estação de trem, – que, segundo os moradores mais antigos, teria inspirado Raul Seixas a compor a música “O trem das 7” -, se encontra em ruínas. A reforma anunciada no ano passado, que transformaria o espaço em ‘Estação do conhecimento’ não saiu do lugar. O telhado da estação está quase no chão e a única intervenção realizada foi cercar o local.

A placa que anuncia a requalirficação contrasta com as ruínas da estação de trem imortalizada por Raul Seixas

A placa que anuncia a requalirficação contrasta com as ruínas da estação de trem imortalizada por Raul Seixas | Foto: José Simões | Ag. A TARDE

Saneamento básico: obras interrompidas e o futuro do Rio Imbassaí

Mas, quando se trata de infraestrutura, nada se compara ao projeto de recuperação das bacias dos rios Imbassaí e Jacumirim. Iniciado há cerca de 10 anos, na gestão anterior, foi interrompido em 2019 por um contingenciamento até hoje não explicado do Governo Federal.

No ano passado, a conclusão da obra foi incluída no Novo PAC e no primeiro semestre deste ano, a licitação de mais de R$ 63 milhões foi realizada para conclusão do esgotamento do município e construção do Parque Imbassaí, para revitalizar o local, onde, na década de 1980, os turistas se banhavam às margens do rio.

Há pouco mais de um mês a execução do contrato foi suspensa por decisão judicial, antes mesmo de começarem os trabalhos. A reportagem de A TARDE solicitou da Prefeitura esclarecimentos sobre esses e outros tópicos abordados, mas não houve retorno.

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