
Em seu instigante livro, “Tomara que você seja deportado: uma viagem pela distopia americana”, o jornalista Jamil Chade faz um retrato impactante da decadência dos Estados Unidos. A nação, até então reverenciada como a mais poderosa democracia do mundo, é apresentada através da jornada de Chade, que percorre de norte a sul os dez Estados, cruzando a fronteira com o México e conversando com refugiados e fervorosos apoiadores de Donald Trump. Entre eles, Jake, o “Viking do Capitólio”, que se destacou na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, se apresenta com seu capuz de pele e rosto pintado nas cores da bandeira americana.
A erosão da democracia americana e seu tecido social fendem a imagem da nação como um farol de liberdade e prosperidade. Uma história que se orgulha de ter vencido guerras mundiais e ter levado o homem à Lua agora enfrenta uma dura realidade. Sob a análise de Walter Salles, o cenário é alarmante: aumento da pobreza, deportação em massa de imigrantes, censura nas universidades e uma crescente desregulamentação das mídias sociais. O sonho americano, antes vibrante, parece desmoronar à vista de todos.
O que observamos não é meramente uma crise cíclica; é uma verdadeira tempestade que envolve economia, política e cultura. O milagre econômico pós-guerra, que gerou uma classe média robusta, agora desmorona sob os efeitos da financeirização, automação e globalização. Famílias sufocadas por dívidas e jovens atados a empréstimos estudantis representam a fragilidade do pacto social.
A polarização política nos EUA cresceu a níveis alarmantes. Democratas e republicanos parecem viver em realidades completamente desconectadas, como se fossem de mundos diferentes. A confiança nas instituições, desde o Congresso até a Suprema Corte, está em queda livre, evidenciada pela invasão do Capitólio, um evento que expôs as vulnerabilidades democráticas de uma nação que sempre se viu como a guardiã da liberdade.
Além disso, a crise das drogas, o aumento da população de rua em cidades abastadas e a violência armada criam um retrato sombrio da sociedade. Escolas e universidades se transformaram em arenas de batalhas ideológicas, corroendo o consenso sobre valores fundamentais.
No cenário global, os Estados Unidos já não desfrutam da hegemonia que tiveram no século XX. A ascensão da China e a multipolaridade do mundo revelam os limites da influência americana, deixando questionamentos sobre seu futuro.
A história nos lembra que civilizações não desmoronam de forma abrupta. Os ciclos de ascensão e queda do Ocidente, segundo Spengler, nos mostram que o que vivenciamos hoje pode ser apenas um capítulo de reinvenção ou o prenúncio de uma nova ordem mundial, onde a superpotência se torna apenas uma entre várias.
As palavras de Jamil Chade ressoam como um chamado à reflexão:
– Presenciei uma democracia na corda bamba;
– Senti a asfixia das conquistas duradouras;
– Testemunhei a dor de imigrantes desequilibrados em busca de aceitação;
– Percebi o poder corrosivo da desinformação;
– Mas também vi resistência, indignação e luta nas ruas.
Diante disso, um líder impiedoso faz marketing para conquistar um prêmio que deveria exprimir justiça e paz, algo que seria um dos maiores escândalos da história. A democracia americana conseguirá recuperar seu ideário? Somente o tempo poderá responder se a América ainda é capaz de reinventar seu próprio sonho.
E você, o que pensa sobre a trajetória da democracia americana? Compartilhe suas reflexões e vamos debater sobre esse tema tão crucial!