23 agosto, 2025
sábado, 23 agosto, 2025

“À noite, rios são terra sem lei”, diz pesquisador sobre Amazônia

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Em meio às vastas paisagens da Amazônia, o professor Cesar Mello, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e docente da Universidade Federal do Pará, enfrenta os desafios de um território cercado pela criminalidade. “À noite, rios são terra sem lei”, reconhece, ao elucidar a complexidade no combate ao crime organizado ao longo do Rio Solimões. As dificuldades são intensificadas pela falta de coordenação entre as instituições, como Forças Armadas, Polícia Federal e Polícia Militar, que, segundo Mello, deveriam unir esforços para enfrentar um problema que parece escapar do controle.

A Marinha realiza apenas fracas fiscalizações administrativas, enquanto o Exército e a PF se isentam de patrulhar a região. Assim, a responsabilidade recai sobre a Polícia Militar, que tenta agir em um labirinto de milhares de quilômetros de rios, dificultando a abordagem de grupos criminosos que escoam um volumoso tráfego de drogas. “Fazemos segurança pública aqui, mas é preciso que todos façam sua parte”, clama Mello.

Questões emergem a partir de suas observações durante um painel no Encontro do FBSP, onde Mello destacou que apenas 2% a 3% da cocaína produzida nos países vizinhos é apreendida ao longo da Rota do Solimões. Essa discrepância evidencia os desafios enfrentados nas operações de combate ao tráfico. “Cerca de 6.000 km de curso d’água são escoados praticamente sem fiscalização efetiva”, analisa. O mapeamento por satélite enfrenta limitações: as plantas de coca, desenvolvidas geneticamente, agora crescem à sombra de árvores, complicando ainda mais a identificação das áreas cultivadas.

Os pontos de fiscalização são escassos, com a Bacia Amazônica abarrotada de rios e igarapés que permitem inúmeras rotas de passagem. Com apenas algumas Bases Integradas de Policiamento em locais estratégicos, o resultado se torna desastroso: “Um barco levando drogas pode passar por um único posto de fiscalização em toda sua jornada até o Atlântico”, explica. O transporte das substâncias ilícitas, que se mistura a cargas legítimas, torna a fiscalização ainda mais complicada. “É impossível verificar tudo”, conclui Mello.

A realidade no Alto Solimões é marcada por uma imensa área a ser patrulhada e uma falta de presença policial na fronteira entre Tabatinga e Letícia. Mello destaca que essa ausência pode não ser uma estratégia deliberada, mas sim uma consequência de limitações operacionais e de efetivo das Forças Armadas. “A linha de fronteira é uma ilusão, marcada por florestas e rios que mudam de curso constantemente”, enfatiza. A falta de ação efetiva facilita as atividades criminosas e impede uma abordagem eficaz por parte das polícias.

O impacto da tecnologia na segurança pública é indiscutível, mas sua implementação na fronteira exige investimentos significativos em infraestrutura de dados e internet. No entanto, o professor acredita que o combate ao crime organizado na Amazônia não se limita à repressão, mas envolve uma visão multifacetada e integrada com o mundo acadêmico. “Devemos olhar para soluções interdisciplinares, que incluam investimentos em tecnologia, políticas públicas de geração de renda e a presença contínua de órgãos federais nas regiões de fronteira”, sugere Mello.

Em suas palavras, “A soberania envolve o controle territorial”. O crescimento da criminalidade em áreas indígenas e a cooptação da população local por traficantes é um desvio inaceitável, que requer uma resposta unificada das autoridades. “As operações são esporádicas e precisam de uma estrutura de apoio efetiva e contínua para impedir que o crime se reestabeleça rapidamente”, diz.

Num momento em que a confiança nas forças de segurança é colocada à prova, a cooptação de policiais por grupos criminosos torna-se um fator preocupante. Combater essa infiltração interna passa por uma fiscalização rigorosa das corregedorias, que devem investigar e responsabilizar os envolvidos. Para Mello, mesmo em países com fronteiras vigiadas, como os EUA, a guerra às drogas continua a apresentar desafios, e a solução deve ser mais abrangente, englobando estratégias sociais e econômicas.

Por fim, o professor enfatiza: “A Amazônia pode ser um espaço seguro, desde que haja um esforço coletivo e bem direcionado”. Ele convida à ação, instigando a sociedade a refletir sobre como podemos contribuir para a segurança e para a preservação da soberania neste vasto território. Que ações você acha que deveriam ser implementadas para enfrentar esses desafios? Compartilhe suas ideias nos comentários!

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