10 agosto, 2025
domingo, 10 agosto, 2025

Ansiedade e depressão podem ser diagnosticados de formas diferentes

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The Conversation

Imagine uma jovem brasileira prestes a estudar na Espanha. O sonho se transforma em pesadelo com noites mal dormidas, crises de choro e uma angústia constante. Buscando ajuda, ela se depara com um questionário para diagnosticar ansiedade e depressão. Mas, será que essas perguntas — originárias de outra cultura — conseguem traduzir seus sentimentos? Essa é uma questão cada vez mais relevante, especialmente após o aumento dos problemas de saúde mental globalmente, impulsionado pela pandemia. O Relatório Mundial de Saúde Mental aponta que mulheres e jovens estão entre os mais afetados, ressaltando a necessidade de instrumentos diagnósticos adequados.

Os conceitos de ansiedade e depressão evoluíram desde a Grécia antiga até hoje, com o DSM como principal referência. Este manual, revisado periodicamente, classifica os transtornos em tipos distintos. Enquanto a depressão é marcada por um humor triste persistente, a ansiedade é caracterizada por medos e preocupações excessivas, frequentemente acompanhadas de sintomas físicos. Para avaliá-las, Aaron Beck desenvolveu o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) e o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), extremamente populares e traduzidos em várias línguas. Contudo, eles atendem a diferentes contextos culturais?

Adaptar um instrumento psicológico não se limita à tradução. É necessário verificar se ele mede os sintomas da mesma forma em culturas diversas. Estudos indicam que manifestações como tristeza e irritabilidade podem ser percebidas de maneira diferente, o que torna o processo de adaptação um desafio contínuo. Em minha pesquisa, realizada em parceria com a Universidade de Coimbra e a Universidade de Extremadura, investigamos essa questão em estudantes no Brasil, Portugal e Espanha.

A análise da estrutura interna do BDI-II revelou que os sintomas de depressão se agrupam de forma consistente entre os países, permitindo comparações seguras. Contudo, o BAI apresentou dificuldades. Sintomas como o “medo de morrer” variaram em sua associação com a ansiedade dependendo do contexto cultural. O ajuste do modelo estatístico também não foi satisfatório, indicando que as manifestações de ansiedade podem diferir entre culturas, tornando as comparações internacionais complicadas.

Esses achados têm importantes implicações clínicas e políticas. No caso da jovem brasileira na Espanha, é vital considerar o contexto cultural para um diagnóstico preciso. A crescente migração global exige ferramentas de avaliação adaptadas, a fim de evitar subdiagnósticos ou superdiagnósticos de sintomas entre populações migrantes. Além disso, a falta de pesquisa sobre a invariância de medidas pode levar a conclusões enganosas, especialmente em saúde mental, onde fatores diversos influenciam os transtornos.

Ampliar a compreensão sobre a equivalência das avaliações ajuda a entender melhor como os transtornos mentais se manifestam em diferentes cenários, levando a políticas de saúde mais eficazes. Uma melhor precisão nas avaliações não apenas melhora a qualidade de vida, mas também fomenta a saúde mental em todas as populações, independente de suas fronteiras.

O que você pensa sobre a importância da adaptação cultural nos diagnósticos psicológicos? Compartilhe suas reflexões nos comentários!

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