No leste da Ucrânia, as forças russas avançam lentamente, conquistando novos vilarejos em Donetsk e se aproximando de Kostiantynivka, um ponto crucial na rota para Kramatorsk. À medida que a violência aumenta, os habitantes de várias localidades enfrentam uma dura realidade: a necessidade de deixar para trás suas casas. Muitos buscam refúgio em centros de registro de deslocados, como o de Lozova, na região de Kharkiv.
Entre eles está Irina, que mostra em seu celular os destroços de sua casa, atingida por bombardeios consecutivos. “Não há mais telhados, fogões ou geladeiras, tudo se foi”, lamenta. A atmosfera de desespero é palpável, e a falta de serviços de emergência acentua ainda mais seu sofrimento: “Quando os ataques começam, incêndios se espalham, mas já não há bombeiros para ajudar”, conta.
Após longos dias de incerteza, Irina e sua família decidiram fugir. “Foi a melhor escolha. Precisamos garantir nossa segurança, porque nenhum muros nos protegerá”, afirma com firmeza. Outros, como Pavel, 33 anos, se rendem à inevitabilidade do deslocamento. Apesar de relutância em abandonar sua cidade, o incessante barulho dos ataques tornou-se um lembrete constante do perigo: “É aterrador saber que sua vida pode acabar em um instante.”
A situação é crítica. As autoridades de Kostiantynivka já chamaram para a evacuação obrigatória de mulheres e crianças, mas ainda restam cerca de 6 mil habitantes na cidade. No meio desse caos, a associação East-SOS atua incansavelmente, planejando rotas seguras para aqueles que desejam deixar a região.
Evhen Pojanski e seu filho, Vlad, estudam o mapa da área e se preparam para uma nova jornada. “Estamos buscando um caminho mais seguro, já que a rota atual pode ser atacada a qualquer momento”, explicam enquanto manobram o micro-ônibus amarelo. O comboio avança por estradas esburacadas, cercadas por campos de girassóis murchos, até chegar a uma aldeia onde uma família espera ansiosamente pela evacuação.
Dentre os evacuados está Tetiana, que, com os olhos marejados, se despede de uma amiga. “Não faz mais sentido ficar. Meus filhos merecem segurança. Drones sobrevoam a área todos os dias. Meu marido, que voltou da linha de frente, me avisou: precisamos partir imediatamente”, explica.
Com lágrimas e sacolas repletas de itens essenciais, a família de Mykola começa uma nova jornada em direção a um futuro incerto, mas esperançoso. O eco dos confrontos pode ter diminuído temporariamente, mas todos sabem que a ameaça nunca está longe.