Num evento com mesas redondas, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, compartilhou uma história que revela a complexidade de sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante a campanha de 2022, Bolsonaro impôs uma condição: para receber seu apoio, Castro deveria declarar a TV Globo e o Supremo Tribunal como inimigos. Essa exigência reflete a percepção bolsonarista, que vê a emissora como parte da oposição, especialmente após a condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe.
Castro, ciente dos desafios já enfrentados na campanha, recusou a imposição, deixando claro que tinha problemas suficientes para lidar. A partir desse momento, sua relação com Bolsonaro se tornou restrita ao campo político, descrita como uma “relação institucional” por pessoas próximas. O governador, o mais jovem da história do estado, subiu ao cargo de vice-governador aos 39 anos, atraindo votos de católicos e evangélicos e despontando como cantor religioso com dois álbuns no Spotify.
Sua ascensão, inicialmente vista como uma missão partidária – ninguém acreditava na vitória do ex-juiz Wilson Witzel, do PSC – transformou-se em um golpe de sorte quando Witzel foi eleito e posteriormente cassado. Castro assumiu o governo e, em 2022, reeleito no primeiro turno, atraiu até mesmo o voto da esquerda, ao evitar associar seu nome ao bolsonarismo e saber aproveitar seus momentos.
Uma nova reviravolta ocorreu quando uma operação policial contra o Comando Vermelho lhe rendeu notoriedade e apoio em todo o Brasil. Castro expressou que “renasceu das cinzas” após esse evento, mas agora enfrenta acusações de abuso de poder político na campanha de 2022. Um repórter revelou desvio de dinheiro público por meio de nomeações de fantasmas para financiamentos eleitorais, com o julgamento previsto para acontecer em breve, mas as chances de cassação do seu mandato parecem escassas.
As pesquisas de opinião, fundamentais para sua gestão, guiam cada movimento político de Castro, que conta com uma equipe dedicada a analisar dados. Seu núcleo duro inclui Rodrigo Abel e Nicola Miccione, que estruturam não apenas a comunicação, mas a máquina administrativa. Recentemente, Castro teve um rompimento com o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacelar, após uma discussão intensa. A relação política se transformou em um jogo estratégico, onde a visibilidade de Bacelar foi potencializada ao torná-lo conselheiro do Tribunal de Contas.
Assim, a saída de Castro em abril, planejando disputar o Senado, mudaria as cartas do jogo, permitindo que Bacelar governasse em sua ausência. Porém, com a briga e a recente alta na sua popularidade, a política pode encontrar uma solução conveniente para ambos. O tempo é uma preocupação constante para Castro, que entende a volatilidade da popularidade e teme o que acontecerá após as operações. Essa história envolve riscos, alianças e uma luta constante pelo controle e estratégias que podem definir o futuro de sua governança no cenário político brasileiro.
