Quando o sol brilha intensamente sobre o Parque da Cidade Sarah Kubitschek em Brasília, a cena vai muito além das manobras e medalhas. O ritmo pulsante do paraskate brasileiro, uma união de paixão e resistência, prepara-se para um dos momentos mais importantes de sua trajetória: a final do STU National – Street Finals, programada para este domingo (26/10), às 14h.
Por trás de cada manobra e aplaudir do público, há um sonho maior: o reconhecimento oficial do skate adaptado como esporte paralímpico. O Brasil se destaca como a principal força do paraskate global, não apenas pelo talento de seus atletas, mas pela organização que eles próprios moldaram para garantir seu espaço. A Associação Brasileira de Paraskate (ABPSK), criada há apenas três anos, transformou um grupo disperso em uma comunidade sólida, com competições e regulamentações que buscam garantir a inclusão da modalidade nos Jogos Paralímpicos até 2032.
“Hoje, são mais de 60 atletas afiliados, sendo 30 de alto desempenho. Atuamos em duas frentes: a inclusão social e o alto rendimento”, explica Vini Sardi, presidente da ABPSK e uma das vozes mais influentes do skate adaptado globalmente. “Estamos construindo um modelo que ainda não existe. Queremos que ele se espalhe pelo mundo.”

No entanto, o caminho para a inclusão nas Paralimpíadas é complexo. É necessário garantir um número mínimo de atletas competitivos em diversas partes do mundo e estabelecer regras devidamente unificadas. Tony Alves, um dos principais nomes da modalidade, comenta: “Atualmente, temos atletas com diferentes deficiências, mas ainda não se encaixamos completamente nas diretrizes do Comitê Paralímpico Internacional.”
Enquanto isso, os campeonatos nacionais continuam a contar histórias inspiradoras. O Paraskate Tour, idealizado por Vini, já reuniu mais de 40 competidores em São Paulo e Recife, dando início à primeiro bateria de deficientes visuais do mundo. “Foi um momento histórico. Ali percebemos que o skate adaptado vai além da inclusão; representa potência e identidade”, recorda Vini.
Entre os protagonistas deste movimento está Léo Almeida, skatista cego e o primeiro paraskatista a competir ao lado de atletas sem deficiência. “Participei de um campeonato com 87 skatistas e consegui o quadragésimo lugar. Como cego, fui o primeiro a descer os Big Rails, os maiores corrimões do skate. Escutei críticas, mas estou aqui por paixão, não por pena.”

Com a paixão pelo skate, Léo fundou uma escola para paraskatistas visuais. “Quero criar a primeira categoria para deficientes visuais do mundo. O skate é como enxergo o mundo”, afirma, destacando a frase pintada à mão em seu capacete:
“Os limites são a gente mesmo que impõe.”
Léo Almeida, skatista cego
Para muitos, o skate é mais do que um esporte; é uma forma de transformação. Tony Alves reflete: “Ele salva vidas, reabilita o corpo e resgata a autoestima. Tudo o que sou, veio do skate. Quando caímos, temos que levantar — isso é a vida.”

Vini concorda: “A representatividade é crucial. Quando alguém com deficiência vê outro corpo semelhante ao seu sobre uma prancha, percebe que é possível. O esporte transforma, cria sonhos e laços.” O modelo brasileiro de organização tem inspirado outras nações, com conversas em andamento com federações da Rússia, Estados Unidos, Espanha e Japão.
O Brasil é considerado o coração do paraskate mundial. Enquanto Brasília se prepara para a grande final, os paraskatistas aquecem em uma pista que simboliza pertencimento. Cada queda, risada e manobra é um verdadeiro manifesto de coragem e superação. E como Léo lembra: “Os limites somos nós que impomos.”
Agora, queremos saber de você: qual é a sua visão sobre a inclusão e a representatividade no esporte? Deixe seu comentário abaixo e venha fazer parte dessa conversa!