O funkeiro MC Ryan compareceu nesta quinta-feira (9/10) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Pancadões, na Câmara Municipal de São Paulo, e surpreendeu os vereadores ao cantar uma música sobre a Cracolândia durante depoimento na casa legislativa.
A cena ocorreu depois que o cantor foi questionado pelo presidente da CPI, o vereador Rubinho Nunes (União), sobre possíveis referências ao uso de drogas em suas músicas.
“Nas suas músicas e shows, há referência a drogas, armas, ou atividades ilícitas? O senhor entende que tais conteúdos podem ser interpretados como estímulos ou normalização à narcocultura? Qual a sua opinião sobre isso?”, perguntou Rubinho.
O MC respondeu que a criação de uma canção pode ter origem na ficção ou na realidade, com sentido pedagógico. “Tem muita música que eu narro uma ficção ali também, assim como eu faço música ‘passando a visão’ para os jovens. Que nem eu tenho a Cracolândia. […] Eu tenho músicas que passam a visão pro povo, entende? Para não usar, não fazer errado. Inclusive, uma das minhas músicas mais ouvidas é essa da Cracolândia”, disse.
Na sequência, enquanto Rubinho falava sobre ações de combate à Cracolândia, o funkeiro perguntou se ele já tinha ouvido a música e, ao ouvir que não, passou a cantar a música Ilusão, uma parceria entre MC Davi, MC Hariel, Salvador da Rima, Alok e MC Ryan. Veja a cena:
O funkeiro cantou o trecho “Enquanto a lata chacoalhar / E a ilusão for a sensação de ser mais poderoso / (Vários vai memo se arrastar) / E a Cracolândia ‘tá lotada de curioso”.
O presidente da CPI respondeu rindo. “Obrigado pela letra, Ryan. Eu fico feliz, inclusive, que o senhor tenha essa consciência justamente contra a Cracolândia e o uso de drogas”.
Depoimento amigável
O depoimento do funkeiro à CPI das Pancadões ocorreu de forma tranquila, apesar do histórico prévio de acusações entre o presidente da comissão e a assessoria do cantor. No início de setembro, os membros da CPI aprovaram um requerimento para intimar MC Ryan, com possibilidade de condução coercitiva, após ele não aceitar convites anteriores para falar à comissão.
“É inadmissível que uma figura pública, citada no contexto da CPI, se recuse a colaborar com os trabalhos do Legislativo. A intimação é necessária para garantir o andamento da investigação”, afirmou Rubinho durante a sessão do dia 4 de setembro.
Na época, o advogado pessoal de Ryan, Felipe Cassimiro, disse ao Metrópoles que não tinha ciência de convites oficiais feitos ao artista para comparecimento na CPI e repudiou a intimação.
Os convites, no entanto, tinham sido encaminhados para o escritório de advocacia da GR6, produtora que agencia o cantor. Em nota na época, a GR6 informou que recebeu apenas um convite, “sem a devida antecedência e em desacordo com o prazo mínimo legal” e que não havia “qualquer descumprimento imputável ao artista”.
Nessa terça, MC Ryan disse à CPI que nunca fez shows em pancadões e que não tem como controlar quem utiliza sua música nesses eventos. O cantor também se ofereceu para fazer ações em comunidades ao lado dos vereadores. Além dele, a CPI dos Pancadões também ouviu outros dois depoimentos nessa terça.