
Nos primeiros seis meses deste ano, o cenário de violência de gênero no Distrito Federal alarmou: 55 mulheres quase perderam suas vidas em tentativas de feminicídio. O estudo da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) revela que, desses casos, quase metade já havia buscado ajuda contra seus agressores, apresentando cerca de três denúncias de violência doméstica antes do ataque fatal. Esteum dado assustador, visto que muitas delas enfrentaram a repetição do ciclo de violência sem a proteção necessária.
Entre as vítimas, 25 registraram um total de 67 ocorrências de violência por parte dos mesmos autores. Um caso em particular destacou-se: uma mulher fez oito denúncias contra seu agressor. Mesmo com 96,2% das vítimas requerendo medidas protetivas antes de sofrerem a tentativa de feminicídio, apenas 61% dessas medidas estavam em vigor no momento do crime.
Um dado ainda mais inquietante é que, mesmo entre aquelas que não denunciaram, 60% das vítimas enfrentaram a brutalidade da violência doméstica. Do total analisado, 36% não tiveram o feminicídio consumado devido à intervenção de terceiros, enquanto 24% foram salvas pela rápida ação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Tatyane Mendes, especialista em gênero e violência, aponta a falência do sistema como um fator crucial que impede que essas denúncias se transformem em proteção real. Para ela, o Estado ainda encara esses casos como conflitos familiares, ignorando a gravidade dos crimes de ódio. “As instituições atuam de forma isolada, o que resulta em revitimização e perda de informações críticas”, observa.
Ela ressalta a urgência de reformas que vão além de leis: “É fundamental promover educação de gênero nas escolas e garantir a autonomia econômica das mulheres. Um verdadeiro compromisso estatal é necessário para fechar as lacunas entre os direitos garantidos em lei e sua aplicação na vida real.” Mendes acredita que uma mudança cultural e institucional é essencial, colocando a proteção e o valor da vida feminina como prioridade nas políticas públicas.
O estudo lança luz sobre a conexão entre vítimas e agressores: em 85,2% dos casos, ambos tinham ou haviam tido um relacionamento. Nos episódios de tentativas de feminicídio, 70% dos casais estavam em processo de separação, com 57% dos ataques motivados por ciúmes e posse.
As recentes ações da Polícia Militar do DF ilustram a gravidade da situação. Um homem de 27 anos foi preso após esfaquear sua companheira durante uma discussão. Ele inicialmente tentou atribuir a culpa a um acidente, mas acabou confessando a agressão. Em outro caso, um homem de 42 anos foi detido por espancar sua companheira até desfigurá-la e divulgar vídeos íntimos na internet. O grotesco ataque foi marcado pela tentativa de silenciar a vítima, que, ao tentar escapar, se jogou do carro em movimento.
Por fim, um crime brutal em Sobradinho II chocou a comunidade: Agnaldo Nunes da Mota agrediu sua companheira com golpes de picareta, tentando esconder o corpo em uma cachoeira próxima. Este caso evidencia não apenas a repetição da violência, mas também a necessidade urgente de medidas eficazes para proteger as mulheres antes que os ataques se tornem fatais.
Esses relatos não são apenas números; são vidas interrompidas, histórias de dor e resistência. A luta contra a violência de gênero é um desafio que requer ação conjunta e imediata. O que você pensa sobre essa situação crítica e as medidas necessárias para combatê-la? Compartilhe sua opinião nos comentários.
