Na manhã de 15 de setembro, o Tribunal de Menores de Val-d’Oise, na região metropolitana de Paris, se tornou o cenário de um julgamento inquietante. Sete jovens, entre eles uma mulher, enfrentam acusações graves por sua suposta participação em um esquema de prostituição envolvendo quatro adolescentes, com idades entre 13 e 15 anos. Ao longo de quase um ano, essas meninas teriam sido sistematicamente exploradas.
No centro dessa trama, estavam os réus – alguns ainda estudantes do ensino médio. Eles gerenciavam anúncios, clientes e tarifas, além de buscar quartos em hotéis e serviços de aluguel como o Airbnb, na capital e em Marselha. As jovens eram trazidas para locais que variavam de quartos de hotéis a carros, cobrando até € 70 (pouco mais de R$ 400) por cada encontro.
A investigação que desnudou essa rede começou com uma denúncia anônima, culminando em meses de trabalho policial. O ponto culminante foi a detenção de Warren M., um garoto de 19 anos, encontrado em um hotel com uma adolescente de 14 anos que tinha fugido de um abrigo. Warren se destaca como o líder do grupo, sendo descrito como alguém cuja única preocupação é a lucratividade das jovens, segundo os investigadores.
O perfil de Warren é preocupante: um psiquiatra o avalia como alguém com “personalidade manipuladora e perversa”, carecendo de empatia e desconsiderando normas sociais. Apesar das evidências, seu advogado defende que ele admite sua participação e está disposto a assumir a responsabilidade pelos crimes.
Entre as vítimas, uma jovem de apenas 13 anos foi forçada a se prostituir quase diariamente, contabilizando cerca de 40 programas em um único mês. Outras três adolescentes também foram vítimas, experimentando abusos severos, muitas vezes em função de suas vulnerabilidades. Três delas oriundas de abrigos públicos se viam rapidamente aliciadas após fugas de instituições de proteção infantil.
Uma das sobreviventes, que também tinha apenas 13 anos quando se tornou vítima, descreve uma rotina de vigilância constante e ameaças. “Tentei parar, mas as ameaças começaram. Hoje, sou livre apenas porque o principal acusado está preso”, declarou.
Os traumas deixados por esses abusos são profundos. “Eles me mataram, estou morta por dentro”, expressou uma das vítimas, conforme relatou sua advogada, Marion Ménage. Para a advogada Caty Richard, a exploração de menores pela prostituição se tornou, surpreendentemente, mais lucrativa para jovens delinquentes do que o tráfico de drogas, evidenciando a falência do sistema em proteger essas meninas vulneráveis.
Estima-se que cerca de 20 mil menores estejam envolvidos nesse ciclo de prostituição na França, um aumento alarmante de 70% nos últimos cinco anos. O julgamento, que deve durar quinze dias, ocorre a portas fechadas, dada a gravidade e a natureza sensível do caso, com possíveis sentenças que variam de 10 a 20 anos de prisão para os acusados.
Essa narrativa nos leva a refletir sobre as realidades sombrias que alguns jovens enfrentam, ao mesmo tempo em que nos instiga a questionar: como podemos mudar essa situação? Compartilhe suas opiniões ou experiências nos comentários e ajude a dar voz a esta causa urgente.