Divergências internas e externas marcam a reação brasileira à escolha da líder venezuelana para o prêmio internacional
Miguel Gutiérrez/EFE
Popular comemora o Prêmio Nobel da Paz 2025 concedido à líder da oposição María Corina Machado, em Caracas, na Venezuela
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva manteve silêncio oficial sobre a concessão do Prêmio Nobel da Paz à líder da oposição venezuelana María Corina Machado, que vive na clandestinidade sob ameaças do ditador Nicolás Maduro, antigo aliado político do presidente brasileiro. Embora tenha participado de eventos públicos ao longo do dia, Lula não abordou o tema. A Presidência da República e o Itamaraty evitaram informar se fariam algum pronunciamento oficial.
Nos anos anteriores, o governo brasileiro manifestou-se publicamente sobre alguns premiados, como Juan Manuel Santos (2016) e o ICAN (2017), mas não adota uma prática uniforme. O assessor especial da Presidência, Celso Amorim, criticou a premiação, afirmando que ela teve viés político e questionando suas consequências práticas. “Não questiono o prêmio Nobel em relação às qualidades pessoais e morais dela. Para o Brasil, interessa o impacto que isso possa eventualmente ter na pacificação e reconciliação na Venezuela”, disse Amorim, acrescentando que há quem tema que a premiação incentive uma intervenção militar no país vizinho.
Nos bastidores, integrantes do governo, incluindo diplomatas, demonstram reservas quanto a uma manifestação oficial. Um diplomata destacou que um gesto em favor de María Corina poderia irritar Maduro e gerar ruídos diplomáticos, mesmo com canais de interlocução mantidos desde 2023. Outro lembrou que a líder venezuelana “tem sido entusiasta de ações norte-americanas no Caribe, o que não contribui para a estabilidade da região”.
No plano político interno, a reação foi polarizada. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), comemorou a escolha nas redes sociais, afirmando que a premiação “deslegitima o regime ditatorial de Maduro” e envia um recado a quem “defende esse regime execrável”.
*Com informações do Estadão Conteúdo
Publicado por Felipe Cerqueira