8 outubro, 2025
quarta-feira, 8 outubro, 2025

Investigada em ação contra o PCC, Reag deixa de ser companhia aberta

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A Reag Capital Holding informou, na noite dessa terça-feira (7/10), que teve seu registro como companhia aberta cancelado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O órgão atendeu a um pedido apresentado pela própria Reag para que o registro fosse cancelado. Com isso, a empresa deixa de integrar a chamada “categoria B”, que reúne companhias que emitem valores mobiliários, exceto ações.

Na prática, a Reag deixa de ter suas informações e títulos disponíveis na Bolsa de Valores do Brasil (B3).

“Com o cancelamento de registro, a companhia passa a ser uma empresa de capital fechado, sem alterações em sua composição acionária”, informou a Reag em comunicado.

A empresa é controladora da Reag Investimentos, que foi alvo da Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto pela Receita Federal e outros órgãos, para desarticular esquema bilionário de fraudes e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis que envolve integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e fintechs e fundos de investimentos da Faria Lima.

No início do mês, a Reag já havia informado que suas acionistas controladoras – a Reag Asset Management (gestão de ativos) e a Reag Alpha Fundo de Investimento Financeiro em Ações – fecharam um acordo para vender a participação de 87,38% na companhia à Arandu Partners Holding, formada por alguns dos principais executivos da própria Reag.

A transação tem valor estimado em R$ 100 milhões, com possibilidade de pagamento adicional variável liegado ao desempenho operacional da empresa nos próximos cinco anos.

Renúncia generalizada de membros

No início de setembro, a Reag Capital Holding informou que o conselho consultivo da companhia foi extinto após uma renúncia generalizada de seus integrantes. Trata-se do órgão facultativo e não estatutário de assessoramento do Conselho de Administração.

De acordo com a Reag, por causa da renúncia de todos os membros do conselho consultivo, o órgão foi extinto em decisão tomada durante reunião do Conselho de Administração da empresa.

Ainda segundo a Reag, eventuais atribuições até então desempenhadas pelo conselho consultivo passarão a ser exercidas pelo Conselho de Administração da companhia.

Saiba mais sobre a Reag

A Reag é uma das maiores gestoras independentes do país, ou seja, sem ligação com bancos. Em seu site, a empresa informa que tem R$ 299 bilhões sob gestão. Ela está ligada à Reag Capital Holding S/A e também controla a Ciabrasf, além de seguradoras e financeiras. O fundador da companhia é o empresário João Carlos Mansur.

A gestora também é conhecida por patrocinar o Belas Artes, um dos cinemas mais tradicionais de São Paulo. Desde janeiro de 2024, o espaço passou a ser chamado de Reag Belas Artes. A empresa estreou na B3 em janeiro de 2025, ao adquirir a GetNinjas, que já estava na Bolsa, listada no segmento do Novo Mercado, que exige práticas de governança corporativa mais rigorosas.

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Operação Carbono Oculto

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Operação Carbono Oculto

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Megaoperação cumpre mandados contra esquema em postos de combustíveis e fintechs controlados pelo PCC

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Megaoperação cumpre mandados contra esquema em postos de combustíveis e fintechs controlados pelo PCC

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Cerca de 1 mil postos movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024

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A megaoperação descobriu que pelo menos 40 fundos de investimentos foram utilizados como estruturas para ocultação de patrimônio

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São cumpridos cerca de 350 mandados de busca e apreensão a pessoas físicas e jurídicas em oito estados pelo país

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Operações financeiras por meio de fintechs dificultavam o rastreamento dos valores que eram transacionados

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Foram sonegados mais de R$ 7,6 bilhões em impostos, segundo a megaoperação

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Proprietários dos postos de combustíveis venderam seus estabelecimentos ao grupo criminoso e eram ameaçados de morte caso fizessem alguma cobrança

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Há indícios de que lojas de conveniência e padarias também parcipavam do esquema

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Relembre a Operação Carbono Oculto

Na mira dos investigadores da Operação Carbono Oculto, estão vários segmentos da cadeia de combustíveis que eram controlados pelo crime organizado, entre os quais a importação, a produção, a distribuição e a venda para o consumidor final.

Para isso, os grupos criminosos tentavam “blindar” ou ocultar o patrimônio – e faziam isso por meio de fintechs e fundos de investimentos, o que acaba ligando as fraudes reveladas pela operação à Faria Lima, centro financeiro da maior cidade do país.

Segundo a Receita Federal, as investigações apontaram que “o sofisticado esquema engendrado pela organização criminosa, ao mesmo tempo que lavava o dinheiro proveniente do crime, obtinha elevados lucros na cadeia produtiva de combustíveis”.

“O uso de centenas de empresas operacionais na fraude permitia dissimular os recursos de origem criminosa. A sonegação fiscal e a adulteração de produtos aumentavam os lucros e prejudicavam os consumidores e a sociedade”, afirma a Receita.

Os suspeitos de envolvimento no esquema usavam importadoras que atuavam como “interpostas pessoas, adquirindo no exterior nafta, hidrocarbonetos e diesel com recursos de formuladoras e distribuidoras vinculadas à organização criminosa”.

Um dos pontos cruciais da organização criminosa, de acordo com as investigações, era a blindagem do patrimônio dos envolvidos. “Os valores eram inseridos no sistema financeiro por meio de fintechs, empresas que utilizam tecnologia para oferecer serviços financeiros digitais. A Receita Federal identificou que uma fintech de pagamento atuava como ‘banco paralelo’ da organização criminosa, tendo movimentado mais de R$ 46 bilhões de 2020 a 2024”, afirma a Receita.

Os criminosos controlavam várias instituições de pagamento menores, criando, assim, uma espécie de camada dupla de ocultação do patrimônio. “A fintech também recebia diretamente valores em espécie. Entre 2022 e 2023, foram efetuados mais de 10,9 mil depósitos em espécie, totalizando mais de R$ 61 milhões. Este é um procedimento completamente estranho à natureza de uma instituição de pagamento, que opera apenas dinheiro escritural”, afirmam os investigadores.

Ainda segundo a Receita, a “utilização de fintechs pelo crime organizado objetiva aproveitar brechas na regulação desse tipo de instituição”. “Essas brechas impedem o rastreamento do fluxo dos recursos e a identificação, pelos órgãos de controle e de fiscalização, dos valores movimentados por cada um dos clientes da fintech de forma isolada.”

De acordo com a Receita Federal, já foram identificados pelo menos 40 fundos de investimentos, com patrimônio de R$ 30 bilhões, ligados ao PCC. Eles eram, em sua maioria, fundos fechados com um único cotista – em geral, outro fundo de investimento, o que aumentava as camadas de ocultação do patrimônio.

Entre os bens adquiridos por esses fundos, estão um terminal portuário, quatro usinas produtoras de álcool, 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis.

O que disse a Reag

De acordo com a companhia, não há qualquer envolvimento da Reag em atividades ilegais, e diversos fundos citados na operação nunca estiveram sob sua administração. A empresa diz ainda que mantém controles internos rigorosos para a prevenção e o combate à lavagem de dinheiro.

“Quanto aos fundos de investimento apurados em que a empresa atuou como prestadora de serviço, informa que agiu de forma regular e diligente. Cumpre registrar que tais fundos foram, há meses, objeto de renúncia ou liquidação. Reforça, ainda, que não possui nem nunca possuiu qualquer envolvimento com as atividades econômicas ou empresariais conduzidas por esses clientes”, afirmou a Reag, em nota.

Na ocasião, a empresa confirmou que foram “cumpridos mandados de busca e apreensão em suas respectivas sedes no âmbito da Operação Carbono Oculto”.

“Trata-se de procedimento investigativo em curso. As companhias esclarecem que estão colaborando integralmente com as autoridades competentes, fornecendo as informações e documentos solicitados, e permanecerão à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários”, disse a Reag.

“As companhias manterão seus acionistas e o mercado informados sobre o desenvolvimento dos assuntos objeto deste fato relevante”, completou a empresa.

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