17 agosto, 2025
domingo, 17 agosto, 2025

Jorge Augusto defende Lima Barreto fora do modernismo

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ABRE ASPAS

O escritor propõe uma nova abordagem à literatura negra

Por Gilson Jorge

17/08/2025 – 4:08 h

Jorge Augusto

Jorge Augusto –

Com a revolução estética da década de 1920, o Brasil entrou na era do modernismo, liderado por figuras como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Este movimento vanguardista, que buscava novas formas de expressão, teve seu apogeu na Semana de Arte Moderna de 1922, uma explosão cultural que moldou o cenário artístico do país.

No entanto, em meio a essa efervescência, um autor se destacou à sombra do modernismo: Lima Barreto. Embora tenha partido jovem aos 41 anos, suas contribuições literárias e a sua luta incansável como jornalista o posicionam como um verdadeiro precursor do movimento, apesar de um aparente distanciamento dos modernistas.

A recente obra de Jorge Augusto, “Modernismo Negro”, expande essa discussão. Reconhecida com o Prêmio Jabuti Acadêmico, na categoria Letras e Linguística, a obra analisa a relevância de Barreto e sua luta pela representação negra na literatura. Em uma entrevista, Jorge Augusto reflete sobre o impacto de Barreto, seu papel como um escritor que navega entre os desafios da publicação e sua ligação com a editora Segundo Selo, dedicada à literatura afro-brasileira.

Autenticamente, Lima Barreto é frequentemente visto como um pré-modernista, um elo entre Machado de Assis e o modernismo. No entanto, Jorge Augusto contesta essa classificação, argumentando que Barreto é, sem dúvida, um modernista negro. A premissa é baseada na observação de que sua obra era disruptiva e desafiadora em relação às convenções do seu tempo.

A principal questão é que Lima Barreto se opõe à ideia de mestiçagem típica do modernismo. Embora existam semelhanças formais entre sua obra e a proposta modernista, essas não implicam reconhecimento. Barreto nunca foi mencionado nas análises modernistas contemporâneas, e muitos pesquisadores fazem questão de incluí-lo na narrativa modernista apenas agora. Essa tentativa de categorizá-lo como modernista ignora sua singularidade disruptiva.

Conforme Jorge Augusto aprofunda a discussão, surge o conceito de “modernismo negro”. Para ele, isso não se refere a escritores negros atuando durante o modernismo, mas a uma crítica da modernidade a partir das experiências do povo negro. Esta perspectiva contrasta profundamente com a busca de uma identidade nacional que dominava a cena literária da época.

Barreto se preocupava em fornecer uma ontologia para a figura do homem negro no Brasil, abordando questões fundamentais sobre a inclusão e a democracia que ainda não foram resolvidas. Sua obra se debruça sobre a humanidade e a cultura do povo negro, sorvendo a memória e oralidade das comunidades periféricas, onde suas raízes estão firmemente estabelecidas.

Buscando reontologizar a figura do negro, Lima Barreto contava as histórias que resurfazem a cultura e a tradição da população negra, ressaltando que sua origem está intrinsecamente ligada à oralidade e à memória dos subúrbios.

À pergunta sobre sua suposta simpatia pela monarquia, Jorge Augusto não hesita: essa ideia é um equívoco. Barreto criticava a continuidade das estruturas escravocratas na República, apontando para a hipocrisia daquele novo regime.

Sobre a famosa frase de Barreto, “o Brasil não tem povo, tem público”, Jorge reforça sua atualidade. A crítica à representação democrática é pertinente, pois continua a ecoar em um sistema político que frequentemente falha em representar os interesses do cidadão comum.

Ele enfatiza que a Câmara não deveria ser um mercado de interesses individuais, mas uma representação genuína de um projeto nacional que inclui todos os cidadãos, principalmente a população negra que, historicamente, ficou marginalizada.

Sua obra, em vez de dialogar com biografias anteriores, busca romper o molde da crítica literária que historicamente limitou autores negros a meras narrativas de superação. Jorge Augusto desafia a visão tradicional ao redefinir a literatura negra como um espaço de imaginação e possibilidade, não apenas de documentação.

A literatura negra, distante da mera documentação histórica, almeja novos futuros e apresenta uma ética comunitária rica, principalmente liderada por mulheres negras. Jorge Augusto convida o leitor a imaginar mundos diferentes, onde o respeito à natureza e à conexão comunitária são fundamentais.

Por fim, Jorge Augusto observa que a autopublicação tem sido um caminho frequente para autores negros, permitindo que suas vozes sejam ouvidas quando o sistema editoral tradicional os ignora. Sua própria experiência recente, após vencer um prêmio nacional, exemplifica as persistentes barreiras que permanecem neste cenário.

Se você ficou interessado no diálogo entre literatura negra e modernismo, compartilhe suas opiniões e reflexões nos comentários. A sua voz é fundamental para essa conversa!

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