26 outubro, 2025
domingo, 26 outubro, 2025

Covid-19 deixou 149 mil crianças e adolescentes órfãos em 2020 e 2021

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O Brasil, um país marcado pela dor da pandemia, contabiliza mais de 700 mil mortes por covid-19. Porém, por trás desses números trágicos, surge uma realidade ainda mais alarmante: cerca de 284 mil crianças e adolescentes tornaram-se órfãos ou perderam cuidadores essenciais em suas vidas. Essa devastadora estatística se refere apenas aos anos de 2020 e 2021, considerados os mais sombrios da crise sanitária. Dentre esses jovens, impressionantes 149 mil perderam um dos pais ou ambos.

Esta estimativa foi revelada por um estudo realizado por uma equipe de pesquisadores de renome, que buscou não só destacar a “magnitude da orfandade no Brasil”, mas também expor as desigualdades entre diferentes estados. Lorena Barberia, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo e uma das autoras do estudo, ressalta a importância de não apenas olhar para as vítimas diretas, mas também para aqueles que dependiam dos que partiram.

“As pessoas acima de 60 anos frequentemente desempenhavam papéis fundamentais nas estruturas familiares. Perder essas figuras pode ser devastador para crianças e adolescentes”, diz Lorena. O estudo revela que a pandemia não apenas levou vidas, mas também fragmentou famílias, deixando um legado de vulnerabilidade e dependência.

Os pesquisadores utilizaram modelos estatísticos baseados em dados demográficos e taxas de mortalidade para chegar a dados alarmantes: cerca de 1,3 milhão de crianças ou adolescentes, de 0 a 17 anos, perderam cuidadores, sendo 284 mil devido à covid-19. Somente contando as mortes provocadas pelo vírus, 149 mil jovens se tornaram órfãos e 135 mil perderam outro familiar responsável pelo seu cuidado. Além disso, 70,5% dos órfãos perderam o pai.

A história de Ana Lúcia Lopes, que perdeu o companheiro Cláudio da Silva e fez de seu filho, Bento, um órfão aos 4 anos, ilustra essa dura realidade. Cláudio, um fotógrafo sem fatores de risco, faleceu rapidamente após contrair o vírus, deixando Ana e Bento em um mar de tristeza e incertezas.

“Eu contei para o Bento logo que aconteceu. Ele estava triste com o falecimento de nosso cachorrinho e eu disse que o papai tinha ido cuidar dele no céu”, lembra Ana.

A dor de Ana e de Bento é apenas uma entre centenas de milhares. Ao longo do tempo, o impacto da perda se tornou mais evidente, especialmente quando Bento começou a sentir a ausência do pai durante uma mudança de classe na escola, levando a mãe a buscar ajuda psicológica para ele.

Estudos mostram que problemas financeiros em situações de orfandade são recorrentes. Por outro lado, a contribuição previdenciária de Cláudio garantiu certa segurança à família. Andréa Santos Souza, promotora de justiça em Campinas (SP) e também autora do estudo, destaca que a vulnerabilidade social aumentou nessa nova geração de órfãos. Durante a pandemia, seu trabalho focou na proteção das crianças afetadas pelo fechamento de escolas e aumento da violência familiar, encontrando uma crescente demanda por guarda legal.

A realidade se agrava com as separações de irmãos e o risco de adoções ilegais. Entre os órfãos, muitos enfrentam exploração e violência. Os trabalhadores da saúde que faleceram deixaram um legado de vulnerabilidades, e é alarmante perceber que muitos órfãos são filhos de trabalhadores informais que não puderam parar durante a crise.

Andréa se juntou a um grupo de pesquisa internacional para entender melhor a orfandade no Brasil. Eles encontraram dados de um registro civil que permitiu correlacionar mortes e orfandade em todo o país. Com isso, foram identificadas mais de 12 mil crianças de até 6 anos que ficaram órfãs devido à covid-19, reforçando as estimativas anteriores.

Embora a pandemia tenha chegado ao seu pico, as consequências continuam. “Precisamos de políticas públicas que reduzam as desigualdades ampliadas pela pandemia. Crianças e adolescentes que perderam suas famílias precisam de atenção especial”, conclui Lorena Barberia.

Se você se sente tocado por esta realidade e deseja contribuir, compartilhe sua opinião ou sugestões nos comentários! Vamos juntos discutir formas de ajudar essa nova geração a superar desafios. Sua voz pode fazer a diferença.

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